domingo, 26 de outubro de 2014

De volta aos meus afazeres

O barulho de chuva sempre foi muito convidativo, então, quando a chuva começou, parei tudo o que estava fazendo e fui até a sala, que fica perto do telhado de metal. As gotas fazem mais barulho lá. Rapidamente, parou de chover e voltei aos meus afazeres. Estava bordando uma toalha com o nome do meu afilhado, Eduardo. A chuva começou de novo. Larguei agulha e linha, me joguei no sofá da sala. Fechei os olhos. O meu objetivo era dormir ao som da chuva. Estava calor. Fui procurar um ventilador. Havia um desocupado no quarto da minha tia, então peguei. Liguei o ventilador na tomada, a chuva parou. Voltei aos meus afazeres. Minha tia chegou e questionou a troca de lugar de seu ventilador. Fui até a sala, tirei o ventilador da tomada, pus de volta em seu quarto. Voltei aos meus afazeres. A chuva voltou. Animada, levantei da cadeira. Alarme falso. Sentei novamente. Voltei aos afazeres. Eduardo é um ótimo rapaz. Desconfio que seja homossexual. Mas ele tem nível superior e até onde se sabe, não se envolveu com drogas, diferente do Paulinho. Minha tia me chamou para ajudá-la na cozinha. Disse que não podia pois estava terminando um presente para o Duzinho. Ela disse que precisava com urgência de ajuda. Levantei, fui até a cozinha. Era drama da velha, só queria ajuda pra descascar as batatas. A chuva voltou. Corri com as batatas para o sofá da sala. Minha tia me levou de volta à cozinha. Comecei a suar. Terminei a batata. A chuva parou. Voltei aos meus afazeres. Escolhi uma toalha azul para não influenciar a sexualidade do rapaz. Depois pensei: Já está tão na cara que elle é veado, porque não dei logo uma rosinha? Seria uma forma de dizer que ele tem o meu apoio. Mas pensando bem, ainda há esperanças, e prefiro que ele não seja homossexual. Fiquei triste, pois ainda não havia conseguido realizar o fetiche de dormir ao som da chuva. Paulinho chegou em casa. Me cumprimentou, passou uns 10 minutos e saiu. Aí começou a chover. Minha tia gritou corre menino, que lá vem toró! E quem correu fui eu, pra deitar no sofá e dormir, mesmo passando calor. Aí percebi que faltava a porta. O menino desparafusou a porta pra vender pros traficantes. Primeiro foram as janelas, agora isso. Mas eu confesso que gostei, porque assim o som da chuva entra com mais força na sala. O telefone tocou. Era o Duzinho. Dizendo que viria nos visitar mais cedo do que o previsto. Corri de volta aos meus afazeres. Só faltava bordar uma letra na toalha. Duzinho chegou em cima do gongo. Entreguei a toalha. Ele logo abriu um sorrisão. Estava escrito: EDUADRO.