quarta-feira, 26 de março de 2014

Sensos e Sentidos

(Por Delianne Lima)

De sentir falta. Daquele grande e delicado buraco naquele cantinho imperfeito do coração. As faltas, falácias. Pequenas mortes de memórias embebidas de nostalgia. O passado que sempre fala do presente. O presente que sempre fala do passado. Mas e o futuro? Se o presente é esmagado pelo passado, o futuro não se faz presente. E é sempre neste círculo vicioso de falhas nossas que a vida rodopia e flutua pelo ar, nas nossas contações de histórias de vida, tatuagens de momentos.

Enquanto as marcas envelhecem, o coração endurece. A bala chega no peito, mas não consegue perfurar a auto-defesa. Carcaças novas e velhas que se travestem de armadura. O coração, cada vez menor, pequeno, se esconde de medo do escuro bem ali, atrás dos escudos gigantescos. A idade aumenta e o medo também. A covardia chega, se instala e começa a fazer parte de tudo, de todas as entranhas. Medo de argumentar, de olhar, sentir, tocar, lembrar. Medo de sentir. Sem sentir.

Com grandes saltos altos, a realidade grita pela vida e tenta, sem sucesso, salvar o pequeno e amedrontado coração. Cheio de marcas e cicatrizes profundas, não consegue mais enxergar. Delicada, porém voraz, a dama de saltos o resgata com um belo banho de espumas de esperança e leveza. Então, seus pés saem do chão e alçam voo com um largo sorriso no rosto.

Era outono e uma nova vida surgiu.