quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Regina e o Vento

(Por Haroldo França)

Regina caminhava pela calçada, cabisbaixa. Seu andar desengonçado deixava pelo caminho gotas quentes de si. Os raios fulminantes do Sol traziam consigo opressão e violência. Ela continuava a caminhar, destemida. Cabisbaixa e desengonçada; porém, destemida. Já não sabia há quanto tempo estava entregue àquele caminhar. Lentamente, caminhar. De súbito, foi surpreendida por uma corrente de ar gelado, que atravessou seu corpo, a fazendo parar, por um instante, e ouvir, quase dentro de si, um sussurro:

-Por que você anda assim, tão triste, Regina? Eu não entendo...

Fechou os olhos. Sentiu seus poros respirarem, como não sentia há tanto tempo. Quando se pôs a enxergar novamente, viu que o Céu estava sendo tomado por nuvens escuras. A temperatura começou a cair. E ouviu novamente o sopro:

-E se eu cantasse uma canção de ninar pra cidade inteira ouvir? Você se sentiria em paz?

Sentiu o primeiro pingo em si. E a gota desceu sobre sua face como acariciar de mãe. Céu rugiu ferozmente, como leão, intimidando o Sol, os carros e os transeuntes. A cidade inteira se esvaziou. Todos se esconderam, e todas as portas e janelas se fecharam, para que o encontro pudesse acontecer. Regina e o Vento. Vento e a Regina.

-E se eu te beijasse onde você está machucada? E se eu beijasse onde você sente dor? Você se sentiria melhor?

Regina continuou seu caminhar. Mas seus pés já não tocavam o chão. Vento beijava-os, com vigor. E Regina dançou pelos ares. Dançou como louca. Rindo. E as nuvens a levaram consigo para um encontro com as águas de outubro. Era o fim do Verão.

Um comentário:

delianne lima disse...

esse é um dos teus textos mais bonitos, tchurunzo.