quinta-feira, 12 de março de 2009

Lóbulo da orelha esquerda

Um lóbulo da orelha esquerda. Um cotonete com a infecção intestinal dos glóbulos brancos da minha pele. Lóbulos, glóbulos. Um cacho de algodão salta pela minha janela. Não de fora pra dentro, mas de dentro pra fora. Algumas folhas bem verdes ainda permanecem ali, o preservando.


Uma música dos anos 80, toca de um vinil invisível. Diz: “coração, é só o que importa. Ênáruê...”. Sinto-me pasma, plácida ao observar aquela subjetividade interessante. O cacho despedaça-se ao meio do vento, ao meio, metade. A música segue em seu segundo minuto seguido. Me irrita. vou desligar, mas era invisível. O vinil tocava em minha mente, conturbando-me. Algo me fazia pensar naquela música, me remetendo à alguma história. Dores terminam a melodia, meu pescoço anseia por estalos, mas esqueci-me como fazê-los.


Intervalo, intermission, pausa, empossado, espaçado. Enquadramento. Foco, luz, ponto principal. Sem foco, sem visão. Embaçado.


Estrela cadente. Tenho três pedidos de cobre. Cobranças de prata, ouro em abundância. Abraços sortidos, amores diversos, promessas quebradas. Decepcionantes como o que esperávamos, esperamos. Como o que sempre há de se esperar. A espera trás algo inóspito às mentes, correlacionando-se com a esperança ínfima no interior de cada um, que tenta, joga e arrisca. A disputa é sempre rala, raspando de canto nos estragos imperfeitos.


Lembrei, agora me lembrei. Vou estalar.


(Delianne Lima)

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