segunda-feira, 9 de março de 2009

Dente Cravado na Terra

Flores. Detesto flores. Detesto plantas, e qualquer coisa ou criatura que possa criar raízes em algum lugar. Detesto primaveras! Em todas as primaveras, forma-se um imenso jardim, cheio de flores, bem na frente da minha janela! Flores de todas as formas, cheiros, cores e espinhos. Argh, como eu detesto essa fertilidade! Eu não agüento mais! Cada vez que chego perto da janela, e vejo aquele amontoado de plantas coloridas... (ofegante) ah, me sinto tremer, me sinto suar, suar frio. Rosas! Malditas rosas! Não consigo parar de cheirá-las... não consigo parar de comê-las! Calda de seiva na saliva, tempero de pólen na gengiva, pétala viva na língua! Não consigo parar de engoli-las!

Essas desgraçadas são cheias de espinhos dorsais, apontando para todos os lados! Para o jardim, para a janela, para todas as estações do ano! Apontam na minha direção! Parem! Parem de me ameaçar! Vão embora... Deixem a minha paisagem em paz! Saiam daqui! Desçam sete palmos abaixo da terra!

Ontem, eu conheci uma rosa. E era uma rosa diferente das outras. Havia algo de especial. Era como um capricho pagão. Quando senti o seu cheiro, uma embriaguez tomou conta de mim. Me pus a mastigá-la. Ela possuía o sabor da mais criminosa das idolatrias. O néctar desceu pela minha garganta, e arde até hoje aqui dentro.
Ontem, foi do teu mel que provei. O mel da tua rosa. Ela era cor-de-rosa. Era farta, aberta, e cheia de amor. Tinha um fascinante odor, o fedor da mais impura libertinagem.
Eu não falo mais por mim! Quem fala por mim é essa rosa! Me usa, me maltrata, me vicia, me condena!
Sou planta carnívora! Vem te entregar à nudez escancarada de meus dentes... que eu te entrego a minha saliva!
Posso sentir minhas raízes fora do chão! Eu sou mel, e estou es-cor-ren-do!... Me entrega a tua pureza, e mela! Mela! Mela!

Calda de seiva na saliva, tempero de pólen na língua, pétala viva na gengiva! Espinha dorsal na ferida, néctar em carne viva, dente cravado na terra não se tira!
Outono! Outonoooo!

Um comentário:

Delirium disse...

Sugestivo e lascivo! Adorei!