domingo, 9 de novembro de 2008

Pedras cintilantes

- Entra!

- Não quero. Tenho medo de você.

- Porque?

- Não sei. Apenas tenho medo.

- Eu não mordo.

- Não tenho certeza. Tua cara me faz sentir flores em mim. Qual é o teu problema? Porque não ages e reages normalmente? Acaso és de pano? Não tens vida?

- Eu só queria que viesses até mim.

- Não sei com qual intuito.

- Eu queria tanto te abraçar...

- Sai de perto de mim! Não tens porque quereres isso. Acho que és louco.

- Não, não sou louco. Vamos até a beira do rio.

- Só se prometeres não segurar minhas mãos.

- Não segurarei. Só queria sentir teu cheiro.

- Porque ainda estás com esses óculos? Não te avisei que assim não enchergarias a verdade que quero te mostrar?

- Não, eu tenho medo. Prefiro acreditar no que vejo. Prefiro ver apenas o que acredito que exista e que seja.

- Covarde. Nunca vi alguém tão covarde.

- Não sou covarde.

- É, é sim. Não apenas covarde, como burro. Não sentes que necessitas de algo maior? Tua vida é oca, meu amor. Eu sinto, vejo isso. Deixei meus óculos na beira da estrada, e eles foram quebrados. Agora só vejo a verdade nua e crua, não sinto aquela fantasia efêmera que sentia... Sinto falta. Queria lentes que me afastassem desse cinza em que me transformei. Não acredito em mais nada, nem em você.

- Eu não quero e nem peço que acredites em mim.

- EU NÃO ACREDITO EM TI, JÁ DISSE!

- Eu não quero isso.



Quebrou os óculos. Tirou-o da realidade fantasiosa de pedras coloridas e embalsamadas. Raspou-lhe as sobrancelhas e cortou-lhe o cabelo. Agora estava nu, estava cru em carne e em espírito. Já podia ver, mas não o queria. Quis matá-lo. Quis matá-lo. Quis entregar-lhe pedras cintilantes, onde répteis defecavam. Odiou o mundo.

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