segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Esquixxxofrenia

Júlia? Júlia, onde está você? Venha já aqui, Júlia! Ah, aí estás, transgênica!

Escute aqui, sua mequetrefe! Te arrependerás amargamente do dia em que resolveste ficar prenha! Me diga, Júlia... nunca ensinaste bons modos à tua filha? Um dia, sua uva, eu juro que jogo essa moleca para a alcatéia dos quintais, junto com todos os restos alimenícios mortais do dia! Veja como ela se porta à mesa! Veja só, que vergonha! Sinto uma tortura, uma agonia subir pela espinha só de lembrar! Júlia, ela insiste em me olhar no fundo dos olhos, com os cotovelos na mesa, e mastigar de boca aberta... a tua filha, Júlia! E faz aquele barulhinho incoveniente e torturador... Gronch, gronch, gronch! (rosna) Eu não tenho palavras para descrever o quanto eu odeio o gronchs gronchs! Oh, como isso me enlouquece... Pára um pouco comigo, Júlia, e imagina: A mesa posta. Um silêncio fúnebre, ensurdecedor... Um cadáver na bandeja. O bater amargo das louças, umas com as outras, o vidro na porcelana, o alumínio no nervo que sai dos dentes... e o mastigar de um animal à mesa, de boca aberta, suja, saliva, atroz, arroz, molho inglês, vinho, galinha, gororoba! Aaaah! Como eu detesto o Gronch, gronch! Como eu o odeio!
Mas ela não para por aí, Júlia. Isso é só o começo. Essa mocinha não tem limites! Eu vou te contar uma coisa, sua songa monga, e você trate de engolir tudo que eu disser, e sem mastigar, estômago abaixo!

Ela faz questão de sentar do meu lado, não apenas na hora do jantar, mas enquanto eu escovo os dentes, enquanto estou tricotando, enquanto estou brincando, rindo, chorando, enfim, a todo momento! Até mesmo enquanto pratico minhas necessidades fisiológicas. Se põe ao meu lado, com um olhar desafiador e perverso, e começa a mastigar chicetes! Ela abre bem a boca, para que eu veja o brilho do catarro em cada dente, e depois fecha! Aí começa a repetir, até que se esgote todo o açúcar! Sua crueldade não tem limites... Ela enfia o dedo mindinho no ouvido, e se põe a cheirar! E depois, enfia o dedo na boca, com os chicletes, salivas, arrozes, galinhas e feijões! Olhe para mim, Júlia, olhe para mim! Veja o que estou me tornando! Tudo por causa dela, dessa maldita criança!

Não! Não... olha ela ali! Ali, Júlia! Tira esse demônio da minha frente! Tira! Júlia, isso é uma ordem! Me obedeça! Manda ela parar, Júlia! Não! Ah... Gronch, gronch! Ela está cantando! Cantando e dançando, o maldito ritual do gronch gronch! Ah! Eu não aguento mais!

-Mastiga pra mim?

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