sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Somos um casal?

Eu te amo. Eu te amo tanto. Eu te amo muito. É simples. Simples como a última gota que cai da jarra de um suco de laranja. E esse suco, pelo menos pra mim, não tem tanto sabor de amizade assim. E já acabou. O que resta agora é um sabor amargo, uma dor que vem rasgando a carne da garganta ao coração. E vem rasgando de leve, aos poucos, quase sem ser percebida, até uma endoscopia provar que estou sangrando por dentro. Tudo por causa de um sabor tão indesejado, e tão invasivo, uma simples constatação:

Não somos um casal.

Mas que besteira minha, né? Constatar algo tão óbvio de forma tão tardia. Talvez pareça um atraso, algo desnecessário, atrapalhando o fluxo das coisas. Sabe o que é? É que aos olhos de um apaixonado, a verdade às vezes prefere virar água. E o mundo acaba se tornando extremamente úmido, quando tento continuar do teu lado, alimentando paisagens ensolaradas que só existem em fotografia. É quando me dou conta de que estou, da cabeça aos pés, completamente encharcado.

Quero ser um guarda-sol perdido na areia de Salinas, a voar sem destino, em noite de ano novo. Quero ser um ano novo, um ano de amor, um ano de felicidade nunca antes vista. Quero poder segurar na tua mão de novo, correr na praia e escutar uma boba declaração de amor. Quero poder te abraçar forte, sentindo que primaveras existem, e casais felizes também, assim como o meu coração. Quero ver o sol nascer do teu lado, encostado em um carro e sentindo o sabor da promessa de um futuro surreal. Quero não precisar escrever, pela segurança de saber que tudo está cheio de amor. Quero me perder no descompromisso apaixonado de cada riso, mergulhar no suspiro de um abraço, ou mesmo de um olhar do meu amor, que é meu amor, não outra coisa. Quero poder sentir o prazer de fechar os olhos, e sentir que lágrimas de felicidade também existem, e curtir o quão inacreditável é o fato de que eu sou protagonista de algo que de fato é, e que de fato é inacreditavelmente maravilhoso. Quero ser raio de sol, grão de areia perdido, voar pra bem longe. Quero ser vento, fazer esvoaçar os cabelos de quem procura emoção, refrescar o suor de quem pratica o amor, passar pelas pessoas e fazer se perder um guarda-sol.

Sou vidro limpo, verbo sincero, desbocado, incisivo e denunciador. Denunciador do mundo que nos cerca, e dos vultos que me rodeiam, e, principalmente, do amor. E é esse amor que denuncio. Um amor injusto, de um coração que se sentia justiçado pela primeira vez. Estou cheio de amor. Cheio de vida. Cheio de ti.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Ledo Sentir

Sentir.
Gostaria tanto de mentir para você, assim, sem querer. Mas sinto, não minto.
A sutileza não me acompanha, nunca me acariciou. Ela só me fez sentir.
Sinto tanto, mas tanto. É intenso sentir, é gostoso, faz bem e é legal.
Só gostaria de, neste instante, amar o sentir como eu te amo. Sinto que não.
Sinto o gosto, sinto o tempo, sinto a carne, sinto o amor. Sinto muito.
Sinto que tudo dá voltas, e eu estou zonzo e febril.
E só sei sentir.
Sentir é natural.
Sabe aquele sentir rasgado, intenso, enlouquecedor? É isto.
Vale a pena sentir, aquilo que for, que será, que tenha sido.
Preciso sentir que estou vivo, sentir que você ao meu lado está vivo, sentir que proporciono felicidade.
Sinto que sou sincero demais.
Coisas de sensitivos idiotas.
...

Sinto que te amo e ponto final

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Gotas

É um carro a vagar por uma estrada deserta... um carro colorido e chaio de malas. Uma viagem de férias, e a maresia é de alegria. No banco de trás, um menino tímido se amedronta com a possibilidade de tudo aquilo terminar em um trauma de infância.

É uma praia bela. Um vento de muito longe sopra nos olhos de cada um ali. E o menino vê que tudo é tão cruel, ao se dar conta de que não é um deles.

São lábios úmidos. Macios e úmidos. O garoto aprende a se distanciar. Começa a criar estórias que não a sua, porque suas feridas ainda são abertas e amargas.

É um monitor LCD. É um quarto onde as paredes guardam as intimidades e as lágrimas de quem aprende a viver.

Poema de alguém que morreu para alguém que nunca existiu e está completando 20 anos

“(Paradoxo)...!Versos assombrados”

Meu último poema eu dedico a ti,
Meu primeiro, eterno e maldito amor...
...A ti...
...Demônio que o Paraíso habita...
...A ti...
...Fantasma que em minhas Visões ressuscita...
...A ti...
...Divina Sedução maldita...
...A ti...
...Fogo que arde em cada Ferida...

...A ti...
...Só queria dizer...

Fora daqui!
Fuja de vez de minha vida!
Em minha razão não há mais espaço pra ti!
(Mas metade de meu coração é só teu, querida...)

Deixe-me em paz!
Pois não agüento mais
Suas Lágrimas em meus ombros...
(Eu te liberto da Gaiola dos meus Sonhos!)

Já não suporto!
No Mar de tua boca me afogo,
Náufrago de teu corpo, perdido sem pudor !
(E quero me perder para sempre, meu amor...)

Chega!
Chega de tentar ressuscitar as Ruínas de mim!
Mesmo sabendo que nossas Fortalezas não têm fim...
(E que eu desmorono totalmente quando me beijas!)

Como é difícil ter que odiar tanto te amar!
(Você pode até imaginar...)

E por mais terrível que seja admitir
Por mais inevitável que seja chorar
Eu preciso confessar...

...A ti...

...Que sou escravo do teu olhar!
...Que tua alma os meus Sonhos invadiu
(E com mil demônios, esse desejo me possuiu!)
...Que meu relógio parado não merece atrasar de Luto...
Pois só a tua falta converte um segundo em 60 minutos...
(Mas basta a tua presença para descartar a Eternidade!)
...E que parece um Milagre
Quando tua Imagem me cura
Depois de tanta Tortura
E que por mais que eu procure

Nem no céu hei de encontrar Brilho maior
Que o de tua Estrela, que agora brilha tão só
(de)Cadente
No Céu escuro
De meus Olhos doentes
E
                  Chove...
                                  Chove...
Mas por mais que eu chore,
Sempre trago em cada Trovão
A Tempestade de nossa Paixão
E mesmo agonizando no meio da Lama
Encontro o Arco-Íris entre os lençóis de tua cama
E é sempre o teu nome que eu chamo
Quando arde o Brilho de nossa Chama...

Porque eu te amo!

(Não! O que estou dizendo?)
Condeno à Morte esses sentimentos!

Nossa Chama se apagou
Na Vela que se afogou
Com o barco de nosso Cruzeiro Infinito,
Antes de conhecer o Inferno paradisíaco

Morreram nossos Corações
E Afundaram nossos Caixões
Perdidos para sempre num Oceano vazio
Cadáveres inertes se Amando no Frio

Sou Ruínas de pedra
Um morto-vivo
Que vive em Trevas
E morre contigo

Pois nem se o céu se abrisse
Se nos encontrássemos no Apocalipse
Na Terra, surgiria uma fenda
Pois agora, nosso Arco-Íris é lenda!

(Melhor dar “à Deus” à nossos momentos...)
Teu choro é Fonte do meu desalento!

Pois sei que agora estás distante
Em busca de seus sonhos
Abriste mão de nossos planos
E te perdi num instante!

Mas levaste consigo metade de mim!
E quando eu pensar que não vou resistir
Os olhos fecho
E por inteira te vejo
Ainda posso te sentir
Sim...

O calor de teu corpo a me apertar...
“Promete nunca mais me largar?”
Os rodopios tontos de nossos abraços,
A embriaguez natural de nossos amassos,
O nado sincronizado de nossas línguas...
O brilho envolvente de seus dentes famintos,
A sensação arrepiante de tuas mordidas,
E sua Luz me levando ao Infinito...

...O Infinito...

...Lá...
...Onde nossos lábios se encontravam...
...Lá...
...Onde nossos beijos se encantavam...
...Lá...
...Onde nossos olhos se perdiam...
...Lá...
...Onde nossas pernas se confundiam...
...Lá...
...Onde deixei minha Ilusão...
...Lá...
...Onde não existe razão...
...Lá...
...Onde saciava os meus anseios...
...Lá...
...Nos teus seios.

O Infinito...
...Perdido...
...Dentro de Mim...
...Lá!

E aqui, só me resta a infinita Dor
Entregar-me de vez ao pranto sem Sabor

Náufrago desse Cruzeiro maldito,
Perdido na Tempestade de meus Olhos nublados,
Sob as Ruínas de nossas Fortalezas assombradas...

Inerte... vítima de Sonhos invadidos...
Possuído... escravo de um Olhar congelado...

E estarei eternamente voltado para as estrelas
Esperando por ti...
E assim como a 606 anos,
Esperando por ti...
Aprisionado na Gaiola dos teus Sonhos,
Esperando por ti...
Apodrecendo entre as ferrugens do teu Olhar...
Esperando por ti...
Em nome desse divino Desejo maldito,
Pois sei que também estarás em algum lugar, a me esperar...
...Lá...
...No Infinito.

domingo, 12 de outubro de 2008

Terceira Pessoa

Tudo o que ele quer é desabafar. Esta noite ele dançou. Dançou como se ninguém o pudesse ver. E ninguém, de fato, o viu, apesar de estar rodeado das pessoas mais estranhas das redondezas. No alto, havia uma luz demoníaca e ameaçadora. Seu corpo estava esgotado, mas era tudo muito eletrizante, seus poros clamavam por cada vez mais ação. Os vultos giraram, as paredes tremeram, o chão se perdeu dos pés, e ele sorriu.

Saiu daquele inferno, e pôs a cara na rua. Sentiu que ainda estava flutuando entre os mortais. Aos poucos decolou, até dar com o nariz na piscina. Sentiu algo simples, uma constatação, uma ameaça, um sussurro destruidor ao ouvido...

-Cuidado. Muito cuidado com o que vocês falam! Olhem só para ele! Cada pequena palavra mal escolhida pode rasgar seu estômago de cima a baixo. Ele pensa que não é assim, ele não percebe, mas é assim, sim! Ele pensa que é mais forte que isso, mas uma simples palavra, por menor que seja, pode fazer com que sua dança aumente o ritmo, pode fazer com que ele esboce um sorriso, pode fazer com que ele rodopie, pule, ou dê com a cabeça na parede, ou tropece sobre si mesmo, torcendo o pé e caindo com a língua entre os dentes. Ele jura que não, que é resistente a isso, até perceber que seu nariz está sangrando, e que é preciso correr ao banheiro para que ninguém veja.

É que hoje é aniversário dela. Vinte anos. Não que ela ainda mexa com ele, mas, de certa forma, parece que sua voz estava ressoando pelas milésimas paredes dessa noite.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Esquixxxofrenia

Júlia? Júlia, onde está você? Venha já aqui, Júlia! Ah, aí estás, transgênica!

Escute aqui, sua mequetrefe! Te arrependerás amargamente do dia em que resolveste ficar prenha! Me diga, Júlia... nunca ensinaste bons modos à tua filha? Um dia, sua uva, eu juro que jogo essa moleca para a alcatéia dos quintais, junto com todos os restos alimenícios mortais do dia! Veja como ela se porta à mesa! Veja só, que vergonha! Sinto uma tortura, uma agonia subir pela espinha só de lembrar! Júlia, ela insiste em me olhar no fundo dos olhos, com os cotovelos na mesa, e mastigar de boca aberta... a tua filha, Júlia! E faz aquele barulhinho incoveniente e torturador... Gronch, gronch, gronch! (rosna) Eu não tenho palavras para descrever o quanto eu odeio o gronchs gronchs! Oh, como isso me enlouquece... Pára um pouco comigo, Júlia, e imagina: A mesa posta. Um silêncio fúnebre, ensurdecedor... Um cadáver na bandeja. O bater amargo das louças, umas com as outras, o vidro na porcelana, o alumínio no nervo que sai dos dentes... e o mastigar de um animal à mesa, de boca aberta, suja, saliva, atroz, arroz, molho inglês, vinho, galinha, gororoba! Aaaah! Como eu detesto o Gronch, gronch! Como eu o odeio!
Mas ela não para por aí, Júlia. Isso é só o começo. Essa mocinha não tem limites! Eu vou te contar uma coisa, sua songa monga, e você trate de engolir tudo que eu disser, e sem mastigar, estômago abaixo!

Ela faz questão de sentar do meu lado, não apenas na hora do jantar, mas enquanto eu escovo os dentes, enquanto estou tricotando, enquanto estou brincando, rindo, chorando, enfim, a todo momento! Até mesmo enquanto pratico minhas necessidades fisiológicas. Se põe ao meu lado, com um olhar desafiador e perverso, e começa a mastigar chicetes! Ela abre bem a boca, para que eu veja o brilho do catarro em cada dente, e depois fecha! Aí começa a repetir, até que se esgote todo o açúcar! Sua crueldade não tem limites... Ela enfia o dedo mindinho no ouvido, e se põe a cheirar! E depois, enfia o dedo na boca, com os chicletes, salivas, arrozes, galinhas e feijões! Olhe para mim, Júlia, olhe para mim! Veja o que estou me tornando! Tudo por causa dela, dessa maldita criança!

Não! Não... olha ela ali! Ali, Júlia! Tira esse demônio da minha frente! Tira! Júlia, isso é uma ordem! Me obedeça! Manda ela parar, Júlia! Não! Ah... Gronch, gronch! Ela está cantando! Cantando e dançando, o maldito ritual do gronch gronch! Ah! Eu não aguento mais!

-Mastiga pra mim?

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Que rufem os tambores!

Um, dois, três! Um, dois, três! Se inicia agora a grande marcha celestial fúnebre em nome do desabafo! Saia já da minha frente, velhaco, antes que meus corvos arranquem seus olhos, e os lobos do norte venham mastigar a carne apodrecida dos teus joelhos! E cale já essa boca! Não ouse dizer nem mais uma palavra. Não preciso te consultar, não preciso concordar com absolutamente nada, nada que dizes. Guarde suas opiniões para si, somente para si, e as engula a seco, pela boca de teu rabo!

Espere! Espere só um segundo. Não vá embora, ainda. Não caçoei o suficiente de ti. Ainda preciso te ridicularizar muito, muito mais. Vejam! Vejam todos! Vejam só o que tem nos ombros desse homem! Hahaha, não é engraçado? Magnífico! Esse homem carrega nos ombros todas as dores que pode carregar um ser humano! Todo o peso desse espírito corroído deve evacuar pelas valas cândidas desta rua! Vamos, todos, vamos caçoar desse imundo, dessa corja individual, deste pedaço da nada! Sinta o peso desse corpo entortecido, entorpecido, e caia de uma vez, esfregando essa língua suja nas pedrinhas e minhocas dessa rua!

Não, não vá embora! Ainda não terminei! Estamos só começando! Agora é hora de partir para a agressão física! Venham todos! Vamos sentir, que delícia, o prazer da covardia vingativa! Que maravilha! Puxem todos suas armas: facas, pedras, espingardas, qualquer coisa serve! Mas antes de tudo, eu começarei com o primeiro golpe. Aquele, o mais potente, surdo e devastador de todos. A palavra.

-Viadinho