terça-feira, 17 de junho de 2008

Jorge Amado me ensinou o dó-ré-mi.

É como se eu tivesse ficado sentada de pijama no quintal, esperando um pé de feijão brotar do algodão molhado. Já diz o poeta: “Acorda, acorda Joana! As palavras que dão tremilique nas pernas foram ditas”.
Vou sem muita vontade pra frente do espelho escovar os dentes, do molar ao molar, matutando sobre a refeição dominical e escolhendo a melhor alface para a salada. Podes então pôr sal no que eu esqueço.
Loça suja na pia, lavar não quero, conversar contigo?! Aceito de bom grado. Percatas no pé, prontos para sentir o calor resfriado do asfalto depois da chuva. Vamos a lavanderia do meio da rua? O espremer da nuvem mais próxima será nossa festa.
Esqueça as cabeças cortadas do caderno policial, veremos quinta-feira na hora caos da cidade uma pintura pós-moderna com cheiro de cheiro-verde. Quem me dera que todos os sorrisos fossem de cinema e que todas as brigas acabassem em uma doceria.
Então foi assim, ficou aprisionada na vitrola a mesma música, no fundo do copo de fanta-uva os acordes, o tempo continua. Antes de dormir quero ter um ataque de retorno. É quando a mente escolhe reviver um momento perfeito, daqueles que o coração fica arritimado e tudo em volta parece silenciar (enquanto o nervoso queima o gerador de energia do bairro).
Chegamos ao ponto indecente da questão, olha-se para o passado e não há mais trinta carros te perseguindo e nem aquela gente chata para vomitar em ti. O tempo da brilhantina virou texto de livro didático, as coisas enfeiaram, Drummond morreu. Se já não bastasse o enferrujar do baço, do figado e do pulmão, o hiperordinário cotidiano enferrujou nossa saliva, nosso sentimento e nossa alma. Vou fazer com que comas quinze torradas queimadas, assim saberás como é tentar falar sobre a beleza e a unidade contida no teu abraçar.
Sem sustentabilidade nos meus joelhos, ficar em pé é e deve ser questão de treino. As coisas tem melhorado, disseram na tv que as tomadas terão formato universal, isso que é romantismo.
Ouve! É a última música da noite, dá para ver esse momento pode ser insano e capturador. É perigoso te achar tão doce. Só quero ficar aqui e atrasar o sol, porqueesse pode ser o último refrão e é preciso te puxar para um abraço disfarçado de dança desajeitada. Só posso me arriscar a pretender falar contigo com a presença de uma aeromoça, preciso saber como usar a máscara de oxigênio em caso de turbulência e quanto as saídas de emergência, no linguajar das atendentes de marketing, te digo: ‘estaremos dispensando’.

Monique Malcher.

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