segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

O grande filho da puta

O filho da puta, o maior de todos, aquele que é o verdadeiro grande filho da puta não é aquele sujeito que quando você passa na rua te olha como se você fosse um pedaço de carne no açougue e se arde todo como se estivesse gozando só de imaginar você nua.
O grande filho da puta, o pai de todos os outros, não é o cara que te chama de gostosa, que te enche o saco até você dar o telefone pra ele jurando que você possa algum dia ficar a fim de um tipo desesperado como este.
O grande filho da puta é aquele que te diz que você é única e que mesmo assim não se apaixona por você. É aquele que diz que você é inteligente, bonita, mas mesmo assim não fica a fim de você, mas idolatra uma outra que ta cagando e andando pra ele.
Com este filho da puta você é capaz de amanhecer batendo papo, de compartilhar risadas, de compartilhar confissões, de ter momentos especiais sem que você se torne amorosamente especial para ele.
Este sacana é aquele cara bonito, inteligente, que te escuta, te apóia, te diz que as coisas vão melhorar, que te faz perceber que ainda existem caras legais no mundo. Mas esse filho da puta, no final das contas, te vê como amiga e se interessa por outra menina, uma certamente menos única do que você.
Esse filho da puta constrói uma relação verdadeira contigo, do tipo sinceridade total, e então, este maravilhoso filho da puta tão honesto é capaz de falar na tua cara que tá ficando com uma outra garota minutos antes de vocês transarem. Dizer isso é algo bem natural pra ele, uma vez que, segundo ele próprio, ele já te contou tudo sobre a vida dele, e além de tudo, lembremo-nos, temos uma relação baseada na verdade, não é mesmo?
Então o filho da puta chega um dia, menos de uma semana depois de vocês terem transado (o mesmo dia no qual ele disse que não queria se envolver com ninguém), e diz: “eu tenho que te contar uma coisa: eu tô namorando”.
E mais uma vez na sua vida você sente aquele soco no estômago, aquela sensação de que se está fudida, já que até o cara que você julgava parecido contigo não te quer, é porque ninguém vai mais querer.
E eu não digo nada, não tenho palavras, nada pra dizer.
Não se pode gostar de alguém por obrigação, se o gostar não acontece, existe uma palavra pra isso? Eu não encontrei.

domingo, 28 de dezembro de 2008

1945

Era uma tarde comum, com cheiro de restinho de chuva saindo do chão, quando minha pedrinha da sorte se perdeu no caminho do buraco de um ralo. Naquele momento, vi desmancharem-se meus sonhos, tudo o que eu havia planejado até o final daquela década cinzenta. Eu estava triste, sozinha, a caminhar pela praça de São Sebastião. Fazia frio. Minhas mãos eram nervosas, dentro dos bolsos de minhas vestes que ainda cheiravam a proletariados da indústria têxtil. Cheguei em casa, pedi à velha que me desse uma chícara do café que tinha acabado de fazer. Era por volta de 4 da tarde. O vapor do café desenhava curvas sinuosas, que tentavam me dizer algo que eu ainda não tinha idade pra compreender. Abracei a velha. Segurei firme no tecido marrom de seu vestido. O país estava em guerra. Ela não sabia se ele - o velho - voltaria para casa. As roupas das mulheres da época eram feitas a partir das sobras que a indústria têxtil produzia para as roupas dos milhares, milhares de soldados. Um belo vestido marrom. Marrom como suas sobrancelhas, e seus belos olhos, que consolavam a água tímida dos meus. Ela sabia o que havia acontecido. Ela decifrara tudo, em um simples toque, um simples gesto de amor. Abriu sua bolsa. Estava cheia de pedrinhas novas. Eram pedrinhas coloridas, vibrantes, alegres, tão alegres que não pareciam viver aquela época. A velha pegou uma delas, e pôs em minha boca. Senti um sabor diferente, feliz. Um sabor que me fazia sentir menina.
Naquele dia, passamos o resto da tarde e a noite juntas. Ela me ensinou como mastigá-las, e a fazer incríveis bolhas a partir de nosso próprio fôlego. Confesso que algumas vezes, as bolas estouravam e minha cara ficava toda grudenta. Mas era divertido. Ao final da noite, estávamos todas grudentas. A velha pegou um pirulito, chupou-o, e depois enfiou ele dentro da minha paquinha.

O velho não voltaria mais.

Rum, ora essa!

-Ora, pois veja você! Olhe só essa sua vagina! É tal qual mariscos bélicos, é tal qual suprimento gélido, é tal qual beringela hidratante, é tal qual ardor de desodorante...

-Cale essa boca, lânguida avestruz! Não me obrigue a tomar atitudes sérias e preventivas contra o câncer de mama.

-Boquete.

-Como disse?

-Boquete! Boquete! É isso mesmo o que você está ouvindo!

-Ora, mas não entendo! Não consigo compreender!

-Sexo oral!

-Oh, como ousas! Vem comigo! Abre minha geladeira, e te convidarei para um brinde.

-Do que estás falando, Carlota?

-Ora, meu querido, não me venha com essa! Ouviu bem? Não me venha com essa, e mais essa, e mais essa! E nem com aquela, aquela outra, aquela outra da outra da outra da outridade de alguém!

-Sua proposta me parece interessante. Entre em detalhes.

-Ontem, eu tava em casa, né, aí a campainha tocou. Aí eu fui atender né, pensei: Nossa, mas como assim, uma visita, a essa hora da madrugada, em plena Rodovia dos Maracujás. Pois menino, quando abri a porta, tive que segurar meus queixos. Todas minhas juntas, todas minhas articulações puseram-se a tremer. A pessoa que tocara a campainha era nada menos que uma velha que usava top de cotton!

-Mas que absurdo! Que violento, grotesco e infiel absurdo! minha nossa...

-E calma aí, calma aí, meu filho, que eu estou só começando! Adivinha o que tinha atrás da velha?

-Um velho?

-Não! Algo extraordinário! Era um carregamento de maracujás!

-Que extraordinário!

-Minha geladeira está cheia deles. Vamos tomar um suco?

-Opa, demorou.

-Então vamos!

-Mas peraí!

-O que foi?

-E o Rum?

Uma moderna e bélica taça de atchim!

Devo dizer - absolutamente, sim (tal qual Maria Cândida, minha eterna dos seios doces, minha tenra ama de leite, minha singela das mamas em carne viva, quando gritava, quando gemia, oh! quando gemia! E quando verbalizava seus sentimentos, eram gemas fritando a estalar que eu via em seus olhos serenos, azuis e violentados. Ah, doce Maria Cândida! Nunca mais fui o mesmo, depois que li os versos, sim, aqueles versos - os quais me fizeram perder o fôlego enquanto eu ainda insistia, tolamente, em adoçar minhas panquecas com cinzas de fígado de avestruz! Oh, doce amada! Porque não dissestes antes que o fígado deveria ser de urubu? Quando dissestes isso, em tua poesia, não me restou mais estômago, rins nem pâncreas para sustentar o tamanho da devoção de minhas sobrancelhas diante de tua majestosa sabedoria. Doce amada! Que saudades tenho da pontinha de sua língua, tão úmida, tão quentinha, a fazer cócegas nos cachos dos meus -) que tudo isso que estou dizendo não passa de pura lorota.

Saúde! Passar bem.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Carta ao ano

Querido 2008,

É com um leve malejar nos olhos que te escrevo. Envio esta carta como forma de agradecimento. Uma carta de alforria. Uma carta de amor. Uma declaração de alguém que, sem querer, se apaixonou perdidamente por ti.

Minha sinceridade é boba, a ponto de dizer que a minha maior vontade agora é te abraçar forte, e não te deixar partir. Ms é o fluxo da vida, né?

Quando viestes a mim, um ano atrás, eras sonho, eras encantaria, deslumbramento, risco e frio na espinha. Hoje, és realização. Realização de um brilho no meu olhar, e de um sorriso aberto e escancarado, ao dizer: Como esse ano me fez feliz!

Foi contigo que aprendi a mais cruel das lições: o amar. E digo mais. Hoje, és promessa. Promessa de um amanhã ainda mais apaixonado, apaixonante e intenso.

Deixarás saudades... Mas 2009 vem aí. E ele há de ser cruel, e me fazer aprender tudo de novo.


Feliz natal, 2008. Eu te amo. Sempre te amarei, e te guardarei em mim, como a gota ácida de uma chuva de três horas da tarde, que sempre, sempre volta.

Sinceros abraços de um íntimo companheiro,

Eu.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Primeira e ultima vez.

Meu querido diário,

Hoje tenho coisas extraordinárias a lhe dizer. Hoje perdi minha virgindade.
Chegando na casa do meu ex-namorado, já decidida a perder a virgindade com ele, reparei em suas atitudes. Ele estava estranho de uma forma não muito agradável, sei lá. Parecia nervoso com o que iria acontecer, então me chamou para dentro do quarto. Inocentemente, entrei, olhei em seus olhos e lhe disse para ir com calma, pois era minha primeira vez. Mas não...
Ele me puxou com uma brutalidade toda, rasgou minha roupa com suas mãos e sua boca, me fez chupar toda sua pica. Sua pica era de tamanho extraordinário. Penetrou totalmente dentro de minha boca, fazendo encostar até o final da minha garganta. Totalmente uma "garganta profunda". Foi uma coisa de outro mundo! Confesso que deu um certo prazer, mas realmente senti um nojo, quase vomitei naquela pica enorme.
Já desesperada, pedi para ele ir com calma, pois era minha primeira vez, mas ele não estava nem aí! Continuou totalmente na brutalidade comigo, logo me deixando de pernas abertas. Socou tudo dentro de mim, sem dó nem piedade. Gritei, gritei, chorei de dor, pedi à ele que parasse, pois estava a doer muito, mas ele não parava. Continuou bombeando fortemente com ferocidade, gemendo de prazer (eu estava a sangrar pelas pernas, virando-me e ficando de quatro). Pôs-se a penetrar e começar toda aquela dor novamente... Faltou-lhe somente socar suas bolas dentro de mim. Foi horrível. Eu, já chorando, pedi que parasse, pois não agüentava mais... Mas ele não ligava, batia na minha cara com força, e chegando ao seu orgasmo, meteu-lhe sua incrível pica novamente em minha boca, fazendo-me engolir toda sua gala. Saí cuspindo tudo no chão, o empurrei e me vesti.
Depois dessa minha “experiência sexual”, nem um pouco agradável, saí correndo pela rua em direção à minha casa. Precisava desabafar isso para alguém, e nada melhor do que meu querido diário.
Meu querido diário, estou aqui para lhe dizer que essa foi a primeira e última vez que transo com homem. Peguei nojo de homens.
Acaso lembro-me de que tive uma experiência com uma coleguinha de escola quando mais jovem... Depois dessa brutalidade que esse homem me fez, decidi minha opção sexual.
Ah, meu querido diário! A partir de hoje, chuparei muitas bucetas por aí! Não quero saber mais de picas me penetrando. Homens em minha vida sexual jamais!

Muito obrigado querido diário.

Beijos e... tchau.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Doce Coração (saudade mata!)

Quando você provar do meu coração, me dirá o doce que a vida é. Quando provar meus olhos, enxergará tudo o que eu sempre quis te dizer. Quando provar de minhas orelhas, vais sentir o quão suave é a nossa música. Mas quando provar do meu nariz, vai sentir gosto de bostela.

(...)

-Estela! Estela! Desça já daí, amada! Veja que me vesti em trajes adequados para te levar embora daqui! Estela! Estela!

-O que desejas aqui, reles mecânico?

-Vim buscar a Estela. Estelaaaa! Esteeeelaaaa! Me ouça!

-A sinhá não está recebendo visitas. Caia fora daqui, antes que eu tenha que chamar os cachorros. Ou então, ligar para o corpo de bombeiros. Ou então, descer até aí e resolver tudo isso com minhas próprias mãos.

-ESTELAAAA!

-Você vai me obrigar a resolver essa situação com covardia e força bruta? Eu acho desnecessário...

-ESTEEELAAAAA, ESTEEELAAAA!

-Já disse que ela não vai descer, rapaz! Tenha juízo, salve sua vida! Junte sua mala de ferramentas, e vá logo embora!

-ESTELA! ESTELA! ESTELA! ESTELA! ESTELA!

-Pérfido, idiota, assassino, ininterrupto! Eis o momento em que a minha paciência se esgota! Me obrigas a tomar atitudes violentas, cruéis e desumanas!

-EEEEESSSSSTELAELAELAELAELAELAELAELA

-Ponho-me a preparar o grande ritual da chuva de canivetes! Agora já é tarde demais! As lâminas cairão dos céus e perfurarão teus olhos, teu nariz e o teu coração!

-ESTELA, ELA Ê, Ê, Ê, UNDER MY...

-Que se inicie o ritual! Que a cadência furiosa dos deuses de deposite das nuvens do céu sobre a grama da terra! A partir desse instante, tudo se tornará graxa e sangue!

-ME DÊ UM E! EU QUERO UM S!...

-VEM CATÁ RIO DE SALSA MOIÇAMBÁ ÔÔÔÔ TUBIÊ, TUBLIÊ MACHU, ÚUU, BATICUNDUM...

-ESTELA, CADÊ VOCÊ? EU VIM AQUI SÓ PRA TE VER

-TRAMANDA FUNESJIO CATABENDUS ROMPTUPTURANDES, BONGO TRABANGO LINDU CARANDIRU, PRAÇA DA SÉ VIRANDO MENINA BACANA

-ESTELA! DESCE LOGO DAÍ, CARALHO!

-HAHAHAHA! AGORA! AGORA É O FIM! AS NAVALHAS JÁ COMEÇARAM A CAIR! TENS APENAS CINCO SEGUNDOS DE VIDA!

-ESTEEEELAAAA, MEU AMOOOOR, VIM TE BUSCAAAAAR...

(...)

Vejo meu amado pela janela. E sei. Sei que seu coração ainda está a pulsar por mim. Cinco batidas. Sei que eu deveria ter tido a coragem de sair daqui. Mas, por mil demônios, meu corpo pesa demais, não consigo levantar! Será que o amor é passível de esquecimento? Será possível que ele tenha se esquecido de que eu sou paralítica desde a infância? Não consigo alcançar a maçaneta! Maldita Irene! Me arrependo amargamente do dia em que a contratei como governanta deste maldito galinheiro! Nunca a perdoarei por ter usado minha cadeira de rodas para transportar ovos contrabandeados... Nunca! Maldita... um dia (e esse dia há de chegar!) eu me vingarei. Vingarei minhas pernas, e o meu amor. Sei que quando as pontas que vem do céu chegarem perto, elas virão e verão o quão injusto é matar quem clama por paixão. Se sentirão culpadas, se sentirão sujas, lambidas, e perceberão que há sete mil jantares não sabem o que é bombril. E quando tocarem o seu corpo, será o último toque capaz de sentir o quão doce é o sabor do seu coração (uma chuva de flechadas de um cupido diabólico).

Socorro, amor! Meu nariz está gelado e seco!

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Bruxas.

Bruxas. Era o que poderiam ser chamadas aquelas duas mulheres, que ao meu ver eram ogras. Sentavam no mesmo lugar todos os dias, somente pra observar o andamento das coisas ao redor. Fingiam trabalhar desde que passaram em um concurso mensal, daqueles anunciados em sites de fofoca. Era um local de renome até, mas que abrigava concursados que faziam de tudo, menos trabalhar.

O setor era a biblioteca. Até hoje não sabia do que se tratava os deveres de cada uma delas. Já havia percebido que aquela de cabelos escorridos dirigia seu olhar caído e desgostoso para alguns documentos espalhados pela mesa. Desde então cultivo a idéia de que cursou letras em alguma faculdade local para então corrigir a gramática de papéis provenientes dos diversos setores de onde trabalha.

Sua missão era o português correto. Boa missão, melhor que muitas, diria eu. Se não fosse a fofoca. O português era tão correto que gostava de perpetuá-lo na vida de uns e outros que a transpassavam. Sua língua era quente, não gostava de parar. Creio que a única que chamava de parceira era a outra velhaca magricela de cabelos curtos e óculos de aro grosso. Nojenta, acompanhava os cabelos escorridos de sua dita “amiga”. Acho que havia ganhado o mesmo posto de corretora de língua portuguesa – malditas!

Cor de rubi

A música tocava insistentemente. Uma mistura de Beethoven e Bach trazia notas melodiosamente tenebrosas. Rita conseguia apenas enxergar aquele vermelho no chão, um sangue que contrastava com o azulejo branco de seu quarto. Aquele que um dia abrigara o amor de um casal apaixonado, ela e seu marido: Raul.

Os olhos estavam abertos. Rita tratou de fecha-los rapidamente, não suportou o olhar fixo daquele cadáver. Cortou fora a cabeça, a fim de manter pelo menos ali, em suas mãos, a vida de seu agora então, ex-eterno-marido. O mesmo a quem considerava amante, companheiro e tudo o mais.

Rita passara seus quase trinta anos procurando o sucesso. Sua visão – e também sua meta – era a carreira, o lado profissional sempre saíra vencedor. O lado pessoal, e também amoroso, era deixado de lado na maioria das vezes. Sua criação fora bastante opressora e de um enorme trauma.

Tinha uma irmã, Heloísa, a caçula. Esta última sempre atraíra a atenção de todos, fazendo com que Rita se sentisse desfocada, abandonada por muitos. Seu ciúme – ou inveja – sempre fora muito grande, e como conseqüência, crescia dentro dela uma angústia e dor intermináveis, a tornando fria como pedra, apesar de sempre querer mostrar seu lado humorístico e simpático, mesmo sendo tão mínimo.

Empresária bem sucedida, não tinha do que reclamar em termos de carreira e profissão. Beleza também tinha, em um bom grau. Mas esses fatores não a preenchiam... Passara sua vida inteira, até o presente momento, esperando cumprir seus planos, achando que a realização viria conseqüentemente como fruto do sucesso. Mas não.

Quando conheceu Raul, aos seus trinta e poucos anos, começou a mudar aos poucos. De repente, já se podia perceber um sorriso verdadeiro em seu rosto. Suas feições haviam mudado. Já via a vida de uma nova maneira, as cores se tornaram mais atrativas, seu mundo agora era repleto de uma nova energia.

Julgava Raul como um presente, e de fato, a fazia muito bem. Quando Petrus nasceu, se considerava a mulher mais feliz. Porém, Heloísa sempre estava por perto. Parecia rodear aquela casa com a sua vida solitária e infeliz, como uma mosca atrás de restos aproveitáveis. Rita começara a incomodar-se. Sentia-se invadida, principalmente com as visitas incessantes, não somente em horários usuais de visitantes comuns, mas com a freqüência em que aquele hábito era feito.

Verdadeiramente, não gostava de assumir, mas nutria um ódio de proporções enormes pela sua irmã. E a respeito de Raul, Rita já ocupava o cargo de ciumenta, sempre fora. Talvez como uma conseqüência de sua insegurança já antiga. Mas com a freqüência de sua irmã em sua vida – aquela vida em que julgara que encontraria uma saída para aquele convívio familiar infeliz – via tudo o que construiu indo por água a baixo.

Nascia a quintessência de seu ser. Renascia das cinzas, na verdade. Esse seu lado, que muitos diriam ser o diabólico, já a habitava a tempos. A culpa era de Heloísa, Rita acreditava. E agora, a primogênita carrega a culpa do renascimento também. As cinzas, foram feitas por Raul. Seu marido havia a transformado em alguém melhor, muitos diziam – inclusive sua consciência.

Porém, assim como Raul a fazia ser alguém melhor, Heloísa trazia o efeito contrário. O ódio só fazia crescer cada vez mais em de Rita; mas decidiu acalma-lo – pelo menos por enquanto.

Em um dia, que Rita achava que era apenas mais um dia qualquer, chegava cansada em casa, como era comum acontecer. Havia passado o dia em reuniões estressantes, fechando contratos importantes com empresas nacionais e internacionais. Chegou mais cedo e Petrus ainda estava na escola. Andou até seu quarto, com saudades de Raul. Mas ao abrir a porta, avistou Heloísa nua, naquela cama onde jurava que ninguém, além dela e seu marido, poderia estar. Raul estava em êxtase, até a perceber no quarto.

Beethoven e Bach tocavam suas melodias, assim como seu marido sabia que Rita adorava. Ela então percebeu que todo o ambiente estava igual a como costumava ser. A única parte que destoava o lugar-comum, era aquele ser repugnante, sua irmã mais velha.

Não sabia porque, nem como Raul tinha sido capaz de tal gesto assombroso. Naquele exato momento, sentiu como se houvesse morrido, então agiu impulsivamente, como nunca agira antes em toda a sua vida. De uma hora para outra, seu ódio transferiu-se para o marido. Esqueceu-se de Heloísa por alguns instantes – esses mesmos que a permitiram escapar – e apenas queria vingar-se de Raul. Aquele seu marido que sabia o quanto sofrera, mesmo que calada, por tudo que sua irmã havia feito.

Em uma gaveta de seu criado-mudo, guardava um facão, para qualquer necessidade inesperada. Chegara a hora então. Com aquele instrumento perfurou o coração de Raul, fazendo com que este nunca mais pulsasse por ninguém, nem por ele mesmo. Surgiram mais nove golpes. Seu marido já estava sem vida, porém seus olhos a fitavam friamente com olhos de cadáver. Fechou-os. Então, quis guardar aquele rosto para si. Cortou a cabeça de Raul, querendo apenas olha-lo.

Deliciava-se com o brilho do vermelho, aquele lago cor de rubi. O contraste com o branco do chão realmente parecia ser como um quadro de arte moderna, e Rita adorava.

Seus braços doíam. Quem a agarrava? Não, não queria aquelas longas mangas brancas. Não conseguia mover seus braços... O que estava acontecendo? Heloísa... Não, o que Petrus estava fazendo ao lado dela? Porque estavam a levando para fora? Que lugar é esse? É hora da homeopatia!

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Trabalho digno

Sim, falei para Dona Mari que ia, e vou. Vou tranquilo, estou tranquilo, ficarei tranquilo. Ai, que vontade de fumar um cigarro... pena que eu não fumo. Tá chegando, acho que vou descer nessa parada, ando duas esquinas, repenso se quero isso mesmo. Droga, ele queimou a parada. Merda. Ok, eu não vou descer, não sou obrigado mesmo. Isso vai me dar um trabalho desnecessário. Mas porque eu já estou de pé e puxando essa merda de cordinha? Fudeu, desci.

- Olá. Boa tarde. Ahn... o Sr. Eduardo.

- Um minuto. Seu Edúúúú, mais um.

- Manda entrar, já vou.

(Suei)

- Entraí. Seu Edú já tá vindo. Qué um suco, uma água?.

- Tem suco de quê?

- Laranja. (Oba!). Com vodca. (Adoro!).

- Não, obrigado.

- Certeza? Sempre é bom dar uma bicadada.

- Não, já disse. Você pode me deixar sozinho, sim? Preciso me concentrar, e eu não bebo em serviço, a coisa pode sair... distorcida.

- Tá bom.

Nossa mãe, que quadros horrendos. Esse apartamento fede. Muito medo. Eu tinha merda de urubú na cabeça quando escolhi essa área.

- Olá, moço bonito.

- Err... oi... beleza, véio?

- Tudo de boa, mas não me trate como se eu tivesse a sua idade, isso me faz sentir mal.

- Ok.

- Vamos para o quarto, sim. Não posso demorar muito com isso.

E fomos. Vocês certamente desejariam ser mosquinhas voyeur para ver a loucura que foi naquele quarto. Pêlos e suor espalhados pelo chão. Um serviço como nunca antes foi visto. Bem feito, um trabalho excepcional. Senti orgulho da minha profissão ao ver o estado de glória daquele homem. Ninguém nunca havia entendido aquele corpo como eu entendi, em cada centímetro, cada dobrinha.

- Quanto é?

- 300 reais.

- Pago com gosto. Foi o melhor até hoje.

- Por favor, indique naos amigos.

- Dona Mariana sempre tem os melhores profissionais, juro que tremi na base quando ela me disse que era um homem, você sabe...

- Seeei. Relaxa, fico feliz que tenha apreciado o trabalho. E, por favor, indique. Não esqueça, meu nome é Loshawer.

- Pode deixar. Até breve.

- Breve? Oh, não. É satisfação grantida por semanas.

- Certo, certo. Até.

- Até.

Fui-me. Depois desse eu preciso de uma semana de férias, pelo menos.

- Gelda, trabalho maravilhoso.

- Tô vendo, seu Edú. Tá lisinho. Agora ele podia ter limpado aquele quarto, né? Porra, vai ser uma semana pra terminar com aquilo.

- Ah Gelda, cala a boca.

Ursos definitivamente não deveriam se depilar.

domingo, 16 de novembro de 2008

Alcochoado de pavor.

É muito pior saber da existência da traição no momento em que está sendo feita, do que depois. Tem-se como prova de – pelo menos – respeito, quando se omite tal fato afim de não magoar aquele que é atingido. “Você precisa parar de ser inconseqüente”, diz. Inconseqüência ou loucura? Loucura ou pavor? Pavor ou medo da perda?

Tal ilustre pessoa se faz corrompido pela própria falta de juízo que condena. Faz igual, somente para se vingar. Faz, e faz de maneira à outra saber. E sabendo, a dor se torna aguda a ponto de ser chamada de insuportável.

Escadas abaixo o núcleo teatral está pronto. A vingança está feita. Com quem? Com quem ela mais teria nojo de saber... e sabe.

Foi comparada a ela. Engole a seco, com certo asco. Até que ponto o réu pode culpar-se? De alguma maneira existe esta diferença? O juiz – se pode ter esse papel – poderia de alguma maneira julgar? Talvez um dia fizesse igual. Teria pena, medo, pavor e amor em cuidar dos ouvidos de certa pessoa a ponto de não querer que nada – exatamente nada – o machucasse. Mesmo que fossem seus próprios atos. Atos infames. Loucos, desnudos.

Ovos e palmito. Algo bem fácil para uma garota solitária. Bem fácil para um garoto seriamente machucado. Todos gostam de tortas. Porque não? Não importa seu rosto estranho. Você tem um corpo legal. Não custa nada. Eu sei que vou gostar, tenho que gostar, porque ela vai odiar. Isso é bom. É bom, não é?

Ensaio gritos felizes. Porque assim solto meus ruídos de angústia e faço parecer cantos engraçados. Bato na mesa, assim transporto a minha dor. Pra ela, estou imitando algum baterista, isso é bom.

Tento não lembrar do rosto que tanto gosto. Eu o perdi. Ele fez-se perder, não quer ser meu.

Parabéns... Boa sorte. Você conseguiu. Meu coração está repartindo-se. A dor não chega somente ali, mas se espalha por todo meu corpo. Minha cabeça parece estar gostando de latejar. Vou andar sozinha, nesse caminho de tijolos quebrados.

Como já ouvi um dia: “Seu coração está quebrado, mas este é um órgão de recuperação incrivelmente rápida”. Passar bem.

Não consigo ir embora. Sei que não te mereço, mas quero ficar ao teu lado. Não é egoísmo, mas quero te merecer.

domingo, 9 de novembro de 2008

Se.m.ana

Não sei porque, mas sempre me prendi em tudo que desejava falar. Não bem falar, mas expor, discutir tudo aquilo. Algumas coisas pareciam sem sentido, mas por tanto te amar, fazia um quase-esforço pra tentar entender. E entendia.

Agora tudo parece errado. Quando meço cada palavra tua (medida por mim, e não por ti), assim como tuas ações, cada vez mais contínuas, tudo parece tão – e somente tão – errado.

Não consigo entender o porque do meu tão santo (e burro) entendimento. De repente toda aquela tão intocável verdade parece suja mentira: como lama caída.

Me sinto idiota. Acima de tudo, idiota. Aliás, existiam mesmo aquelas palavras? Será que apenas não as imaginava saindo de tua boca, quando apenas fazias aqueles teus ruídos – aqueles, só teus? Pronto, lá se vai a minha magnífica paixão pelos teus gestos. A minha tão inapta capacidade de querer relacionar-me contigo. Me diz, pra que? Estás tão à flor da idade, queres provar de todos os frutos, de todos os gostos. Porque hei de atrapalhar-te?

Vou-me embora. Foste embora. Enfim, foste embora.

Não gosto de parecer dramática, mas sou assim. Não queria sentir ciúmes, mas sinto – aos litros. Acho que pedes demais. Não consigo te imaginar numa tarde úmida-seca, nos braços de outra pessoa. Como a odeio! Mesmo sem ter que odiá-la, na verdade. Deveria te odiar. Deveria odiar a tua (suposta) confusão, a tua suposta indecisão, teu não-saber-o-que.

Queria ser a imatura pra poder não me sentir mal ao beijar outras bocas; pra poder aceitar outras mãos, outros braços, sem lembrar dos teus. Não deveria ser assim, disso tenho certeza. Deveria poder te esquecer.

Estás longe, qual a minha idiotice em acreditar no destino, em sonhos... Não consigo trabalhar. Corto papéis e penso em ti. Penso que estás ao lado dela, distribuindo aqueles beijos (dos quais eu tanto gostava) em seu corpo magro.

Podias ter ficado mais tempo. Mas quiseste vê-la. Uma sema. Uma semana Uma semana. Uma sem. Mana. Sem. Ama. Se ama. Se amam. Amam-se.

Vício

Quanto te olho, não sei o que me dá. De repente começo a percorrer pelas tuas mãos, teus braços, teus cabelos, teu sorriso... Queria que não fosse apenas com os olhos. Sei que estás longe. Também sei que devo te esquecer. Às vezes realmente consigo acreditar que te esqueci, te deixei de lado; mas é fato que a saudade vive ao meu redor.

Hoje senti como se tivesse um fantasma ao meu lado. Algo como uma força espiritual, não sei. Senti teus braços em mim, ao meu lado. Devo estar ficando doida, espero. Deve ser coisa de alguns momentos, como já tive bastantes, por tua causa também.

O tempo passa, e sinto cada vez mais que vou conseguir te deixar de lado. Não completamente, claro, mas vou conseguir seguir com a minha vida. Já seguiste com a tua, não é mesmo? Aliás... não tenho outra escolha. É melhor assim. Agora sinto como se tudo que me disseste um dia estivesse se esvaindo. Não consigo suportar ser uma opção, nunca soube lidar muito bem com isso. E se sentes o mesmo por outra pessoa, que seja.

Me rendo. Quero viver, quero um futuro. Já te disse que não quero mais sofrer, só que... porque ando tão confusa? É tua culpa, de alguma maneira? É estranho, me senti feliz, me senti bastante realizada com outra pessoa... porque durou tão pouco? Porque de repente senti náuseas e vontade de ir embora? E ainda continuo no meu vício de acreditar no que e em quem não se deve. Acho, realmente, que sou masoquista de alguma maneira. Acho que devo gostar da dor.

Me rendo de novo. Quero deixar de ser confusa. Vou ficar só e vou parar de pensar nas outras pessoas. Tenho que pensar em mim mesma, somente (pelo menos por um tempo). Se alguém merecer, vou tratá-la de uma maneira bem especial, mas por enquanto penso assim. Vou realmente pensar mais em mim mesma. Foda-se.

Mãe

Os teus cílios se fecharam e nunca mais pude ver o brilho que saía dos teus olhos. Carinhoso, olhar de mãe. Por onde irias, por onde andariam teus olhos?

Não mais segurarias minhas mãos. Estas mesmas que suavam frio ao ver teus lábios secos e brancos, sem vida. Toda uma fantástica vida e significância dentro de uma caixa de madeira, igualmente morta.

Não tive tempo de comprar rosas, mas achei essa margarida, solitária em meio à uma cidade conturbada. Ela não estava murcha e seu amarelo era vivo e alegre. Achei importante ficares com algo assim.

Quero tuas mãos, mãe. Preciso de teus abraços fortes. Não sou eu quem vai cozinhar aquele bolo perfumado e delicioso de tardes de domingo. Não queria derramar essas lágrimas malditas, mas porque essa doença te tirou de mim? Já não sou solitária o bastante?

Não vou suportar tua ausência. Tanto que falei alto em horas ruins, tanto quis chamar a tua atenção, mostrar que precisava de ti. Eu te amo, e amo, mãe.

Pedras cintilantes

- Entra!

- Não quero. Tenho medo de você.

- Porque?

- Não sei. Apenas tenho medo.

- Eu não mordo.

- Não tenho certeza. Tua cara me faz sentir flores em mim. Qual é o teu problema? Porque não ages e reages normalmente? Acaso és de pano? Não tens vida?

- Eu só queria que viesses até mim.

- Não sei com qual intuito.

- Eu queria tanto te abraçar...

- Sai de perto de mim! Não tens porque quereres isso. Acho que és louco.

- Não, não sou louco. Vamos até a beira do rio.

- Só se prometeres não segurar minhas mãos.

- Não segurarei. Só queria sentir teu cheiro.

- Porque ainda estás com esses óculos? Não te avisei que assim não enchergarias a verdade que quero te mostrar?

- Não, eu tenho medo. Prefiro acreditar no que vejo. Prefiro ver apenas o que acredito que exista e que seja.

- Covarde. Nunca vi alguém tão covarde.

- Não sou covarde.

- É, é sim. Não apenas covarde, como burro. Não sentes que necessitas de algo maior? Tua vida é oca, meu amor. Eu sinto, vejo isso. Deixei meus óculos na beira da estrada, e eles foram quebrados. Agora só vejo a verdade nua e crua, não sinto aquela fantasia efêmera que sentia... Sinto falta. Queria lentes que me afastassem desse cinza em que me transformei. Não acredito em mais nada, nem em você.

- Eu não quero e nem peço que acredites em mim.

- EU NÃO ACREDITO EM TI, JÁ DISSE!

- Eu não quero isso.



Quebrou os óculos. Tirou-o da realidade fantasiosa de pedras coloridas e embalsamadas. Raspou-lhe as sobrancelhas e cortou-lhe o cabelo. Agora estava nu, estava cru em carne e em espírito. Já podia ver, mas não o queria. Quis matá-lo. Quis matá-lo. Quis entregar-lhe pedras cintilantes, onde répteis defecavam. Odiou o mundo.

Palavra

- Estás usando a palavra, estás usando!

- Eu não tenho culpa, tenho que dizer.

- Não, não. NÃO! Não quero ouvir.

- Mas porque? É o que eu sinto.

- É o que eu odeio. É o que eu sempre não quis ter.

- Não faça isso.

- Faço sim, a culpa é tua, toda tua.

- Não te entendo.

- Acho que nunca vais entender.

- Não vou mais dizer nada, só queria que amargasses essa frescura dos teus pensamentos impróprios. Fazer o que, né. És completamente estúpido, ignóbil.

- Ah, melhor saíres da minha frente, petrificado. Senão te petrificarei.

- O que? Haha. Tenho pena de ti, ser espalhafatoso.

- Me peita, me peita então! Pensa que eu não sei, é? Fazes de conta que não és uma galinha, mas morres de medo.

- Eeeu? Medo? Vai te fuder, ó santo estúpido. Vamos rir juntos da tua tristeza plena.

- Eu não, prefiro te massacrar com meus olhos. Minhas mãos já cansaram de te bater, agora só vou te perfurar com as minhas palavras de sangue, amigo. Agüentas esse olhar, hein? Agüentas?

- Eu te amo.

Ônibus

- Oi, quanto tempo! Posso sentar ao seu lado?

- Ah, oi! Pode sim. Não repara não, é que eu estava "viajando"...

- Ah, você está viajando?

- É, estava perdida olhando pro horizonte.

- Ah sim.

(longo silêncio)

- Você está bem?

- Sim, estou. E você?

- Também.

(silêncio de mais de 10 minutos)

- Será que vai chover?

Olhando com um olhar quase que angustiante, de quem não tem mais saída.

- Acho que não.

Ela já esboçava um quase-sorriso, ao respondê-lo. Ele já meio conturbado, sem saber o que fazer, explode:

- Escuta, estás passando por algum momento ruim, algum problema profundo, por um acaso?

- Não. Porque?

- É essa sua cara... essa sua cara. Estás com um olhar tão penetrante que ao menos consigo encará-la.

Ela não falava nada, exatamente por não querer falar nada. Não sabia por que, mas não se incomodava mais com esses silêncios prolongados. Agora gostava. Também não via maneira de se explicar o porquê de não estar pelo menos se esforçando pra criar algum tipo de comunicação entre ela e o velho conhecido. Apenas não sentia a necessidade de saber, perguntar sobre a vida dele pelo simples fato de não ela não querer. Não queria, não perguntava. Gostou do silêncio, gostou daquela situação estranha, sabe-se lá por que.

- Ah, é. Não ligue pra isso, é só a alergia.

- Bom... essa é a minha parada. Até um outro dia, quem sabe.

- Até.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Casamento meu bem

Com seus sapatos voadores e sua voz grave viu as pessoas dizendo adeus, foi criado em um bairro estranho, diferente dos outros tinha um nó no estômago, seu rosto era daqueles confiáveis para se perguntar as horas. Deve fazer sentido falar dele, um transeunte cheio de carga naturalmente positiva e a seu bom grado negativa.
Com uma dança estranha se tornava rei do chuveiro e o mundo pós-porta sumia, ele tentava ser despojado, mas esquecia o nome da recepcionista na entrevista de emprego, seu coração parecia sempre estar prestes a pular na bancada. Tinha potencial para ser galã aos cinqüenta anos, enquanto isso suas sobrancelhas cheias dariam conta da vontade galante de se envolver na penúltima música.
Para ele o mundo é um parque estranho pulsando vermes coloridos, é atrasado para ser feliz e bom a todo momento. Parece que tudo está bem nos vestidos florais das crianças e as águas parecem se debater tranquilamente, da janela dele a revolução é a hora do rush. No papel da lista do supermercado as pequenas crianças céticas fazem desenhos de pessoas com olhos imensos e corpos miseráveis, escaldando debaixo de um sol ironicamente sorridente na visão do homem carga naturalmente positiva. Quando for pai achará as esquinas perigosas, mas continuará populando sem planejamento e esse não será o quadro para o qual se sente prazer de olhar nos cafés da manhã.
Sua dança é coreografada e sua farsa é fácil de ser descoberta, se o ônibus lhe esperasse seria ele mais completo. Está tentando ser emancipado de tudo de novo, mas ainda queima as torradas feitas dos pães de ontem. Raspou o cabelo no banheiro imaculado de uma peixaria e mudou o comportamento, é voyeur dos seus amores cretinos, ele é o homem.
Quer mudar esse jeito covarde, lamber as melhoras do espaço, reproduzir o estilo de um cara modista. Vou logo avisando que é difícil ser um copiador, a respiração da mentira é acelerada e as pessoas vão te pegar no pulo. É perigoso a trajetória de um corpo desprezado e cheio de complexos que a vida amamentou, fico feliz se a terapia das terças funcionar e se o boliche for o suficiente para espantar os medos dele.
Abra os braços, misture teus lábios com o meu cérebro, esse momento será uma espécie de stripper filosofal, quebre suas carências durante cada passo desse jogo de câmeras. De repente pode aparecer um substituto e arrancar tua alma para fazer alguma coisa feliz ao longo do sorriso de quem volta para a parte difícil do couro cabeludo da loucura. Andarilho feroz em círculos ambiciosos de paixão e sucesso, apostando na mesa de grama todo seu olfato de campeão haras, assim que te quero.
Me assista dando pulinhos na corda colorida de crochê, estou dançando com as cortinas e obviamente cantando as canções de Sinatra. Sou a noiva mais feliz de três quadras no bairro mais antigo da cidade. Sou a noiva que diz que chá é bom para circulação. Não importa os anos que se passaram, esse momento é um livro pesado, as ligações que trocamos serão pagas pelo padre e não há nada perfeito, mas de resto tudo vai indo bem. Dividas e panquecas nos esperam nos próximos anos, fique feliz comigo, finalmente amando um lírico, nossa foto na parede, tu colorindo meus juramentos e os gritos calados dos lençóis de núpcias.
Tem uma besta dentro de mim quando pareço esquecer que estou presa a ti, o relaxamento na banheira não resolveu, sou rápida na roleta russa e algumas vezes eu fui boazinha, era uma garota cheia de presentes na voz, ganhava qualquer um, já disse, tenho uma besta quando tenho raiva de alguém, plano azedo na cutícula, o nervosismo te matará pela boca.
Sou a mulher que dança dentro da seringa dos hormônios à pupila dos olhos. Tenho milhares de faces para te mostrar, faço sua ferida secar, canto todas as cantigas de vegans e carnívoros. Vou dirigir, cruzar países contigo absorto nas palavras cruzadas nível avançado, não seremos os namoradinhos do Brasil, seremos os nojentinhos dos postos de gasolina beira estrada e quando me amares eu te deixarei no primeiro boteco fim de mundo.
Todos os dias sentamos lado a lado e tu nunca esboças nada, ficas aí idiotizando tua própria carcaça que grita por um beijo molhado e cruel na tua nuca, que vê e percebe o mundo melhor do que um pássaro preto, cheio de blondor nas asas surradas de malicias por um ser humano de brutalidade esporádica. Te amo porque não corres para mim, não sonhas em possuir e sabe muito bem contemplar.
O barulho das tuas pernas inquietas no sofá de couro me enlouquece de raiva, quero me ver livre da sala de espera, do palitar dos teus dentes, tenho raiva porque tua pele tem poros. Tu me destes mais do que alguém teve coragem de tentar, gosto de ser a besta, nesse ponto a proteção de Aquiles é não dizer o nome.
Se me apaixonar serei a maluca que anda pelas ruas com os seios de fora sem os seios de fora, mesmo assim pretendo correr o risco. Não me diz que a ampulheta foi roubada, eu preciso sentir que estou me vulnerabilizando. Dessa vez o meu plano é me sentir uma ex-criminosa porque tudo que espero é tomar um café descompromissado contigo, com a minha pior face, a que ama.
As paredes descascaram esse final de semana e todas as embalagens de biscoito estão dentro da pia sendo corroídas pelas formigas do brigadeiro fundo de panela. Minhas axilas sentem falta do desodorante da moda veraneio e as remelas do meu olhar estão gritantes e até bonitas, mas apenas para quem consegue se acostumar com o reflexo maltratado da maquiagem velha no espelho. Dessa posição posso pegar o copo com água enquanto uma barata assustada corre em cima das pontas duplas do meu cabelo queimado cacheado de lua.
Tem um cachorro lambuzado de maniçoba olhando os livros de sebo na bacia amarela de roupa limpa, ele coloca a língua para fora e cospe um abajur cor-de-rosa da casa da morena de neve, cujas pernas são a estrada do veludo de um Cônsul mudo. Passaram-se sete dias dessa aventura de podridão ao meu redor e já não sou a mesma. Sou Jack White recortado e colado na mesa de uma freira que quer ter uma família, sou um chinês de Nova Orleans, sou um Vestido nudista comendo vatapá.
Não entendo porque minha opção te quebra, quero mostrar algo que ninguém entende, vou para lugar nenhum passando por um ponto fixo. Uma orquídea sonegou o imposto de renda e ninguém a perdoou, é uma escrava do floricultor, obrigada a ser rosa nas quintas e no happy-hour hortelã.
As paredes descascarão no próximo final de semana e não quero estar aqui, vou ser feliz, reclamar de sorvetes derretidos, experimentar roupas de departamento e ler livros emocionantes com um recurso externo, o sacolejar do ônibus.
Quero engolir todas as pessoas interessantes, saboreá-las devagar, mas com a rapidez de um para sempre. Cada sorriso de começo de piquenique, cada risada de maçã verde e cada esvoaçar de cabelo sedutor, vou pôr na boca e falar como um mal-educado no jantar do Itamarati. Quero sentar na varanda e arrancar a pele do melhor poeta do vilarejo, que fica nos confins de um país coadjuvante, onde as mulheres são o banho quente do homem congelado na poesia do afago e na ética comportamental.
Se abrires a janela meu corpo flutuará despido por uma linha eletrônica invisível, enquanto isso minhas mãos te escrevem um pedido de desculpas daqueles que ficam entre a geladeira da década de oitenta e um imã que se ganha em um chá de bebê.
Se não tivesse as unhas do pé veria minha pele daqui a quarenta anos, seria mais praiano mesmo odiando praias, não preciso de unhas para engolir as cartas, as pessoas, os jornais, a sonoridade dos Hendrixs e o olhar melancólico dos Buarques. Vontade estranha de comer cebolas descascadas com faca azul e ver as lágrimas falsas brotarem.
Comi seis batatas cruas a semana inteira, o cheiro de leite com ovo delas me impregnou os lábios, foram dias que me queimaram o pensar e me aguçaram o sentir. Comi os minutos contigo, engoli nossa conversa fila de banco e regurgitei um livro de sorrisos teus, teorias cotidianas, defeitos físicos bonitos que saltaram do teu corpo para o meu querer, olhei para ti com o olhar canibal da ilha dos que amam o interessante. Era errado não me importar com o tempo, com as responsabilidades momentâneas.
A vida ia seguindo seu curso nada natural e as bibliotecas se partiam mais verdadeiras e a fauna gritava mais psicodélica, eu era uma espécie de velho cirurgião cuja as mãos tremiam com o bisturi, tu eras a obra e a própria moldura, quis te levar para ser minhas manhãs e meu recostar no travesseiro dos cochilos da tarde.
Agora depois de te conhecer sou o ingresso do teatro municipal rasgado ao meio, parte perto do espetáculo e parte na contagem emocionante da bilheteria.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Aquelas elas

ELA- É como se eu tivesse ficado sentada de pijama no quintal, esperando um pé de feijão brotar do algodão molhado. Já diz o poeta: “Acorda, acorda Joana! As palavras que dão tremilique nas pernas foram ditas”. Vou sem muita vontade pra frente do espelho escovar os dentes, do molar ao molar, matutando sobre a refeição dominical e escolhendo a melhor alface para a salada. Podes então pôr sal no que eu esqueço. Loça suja na pia, lavar não quero, conversar contigo?! Aceito de bom grado.

(entra em cena Aquela)

AQUELA- Seu sorriso sacana profissional até parece bonito daqui.

ELA- Quando chegas falta em mim cartas na manga, manga da manga e não manga da blusa.

(pausa)

AQUELA- Consigo pensar que a culpa sempre foi minha.

ELA- Trinta mil portas se fecharam pelas minhas costas, cada canto do meu quarto está imundo. Mas desde que te conheci só quero arrumar meu paladar e inventar a desculpa de perguntar as horas pra manter contato.

AQUELA- Aceita passar a insônia na sorveteria? Serei o sorvete de manga e você o de menta.

ELA- Quero gargalhar vendo as palmilhas dos nossos tênis encharcadas pela chuva.

AQUELA- Ofereço-te a frase mais pós-moderna e romântica: Toma um suco comigo.

ELA- O espremer da nuvem mais próxima será nossa festa. Esqueça as cabeças cortadas do caderno policial, veremos quinta-feira na hora caos da cidade uma pintura pós-moderna com cheiro de cheiro-verde.

AQUELA e ELA- Vivas ao anagrama de ROMA.

(se abraçam)

AQUELA- Antes de dormir quero ter um ataque de retorno. Vou fazer com que comas quinze torradas queimadas, assim saberás como é tentar falar sobre a beleza e a unidade contida no teu abraçar.

ELA- Ouve! (começa a tocar uma música) É a última música da noite, dá para ver esse momento pode ser insano e capturador.

AQUELA- É perigoso te achar tão doce. Só quero ficar aqui e atrasar o sol, porque esse pode ser o último refrão e é preciso te puxar para um abraço disfarçado de dança desajeitada.

(dançam juntinhas, depois, aquela se retira e ela volta à posição inicial)

ELA- Quem me dera que todos os sorrisos fossem de cinema e que todas as brigas acabassem em uma doceria.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Somos um casal?

Eu te amo. Eu te amo tanto. Eu te amo muito. É simples. Simples como a última gota que cai da jarra de um suco de laranja. E esse suco, pelo menos pra mim, não tem tanto sabor de amizade assim. E já acabou. O que resta agora é um sabor amargo, uma dor que vem rasgando a carne da garganta ao coração. E vem rasgando de leve, aos poucos, quase sem ser percebida, até uma endoscopia provar que estou sangrando por dentro. Tudo por causa de um sabor tão indesejado, e tão invasivo, uma simples constatação:

Não somos um casal.

Mas que besteira minha, né? Constatar algo tão óbvio de forma tão tardia. Talvez pareça um atraso, algo desnecessário, atrapalhando o fluxo das coisas. Sabe o que é? É que aos olhos de um apaixonado, a verdade às vezes prefere virar água. E o mundo acaba se tornando extremamente úmido, quando tento continuar do teu lado, alimentando paisagens ensolaradas que só existem em fotografia. É quando me dou conta de que estou, da cabeça aos pés, completamente encharcado.

Quero ser um guarda-sol perdido na areia de Salinas, a voar sem destino, em noite de ano novo. Quero ser um ano novo, um ano de amor, um ano de felicidade nunca antes vista. Quero poder segurar na tua mão de novo, correr na praia e escutar uma boba declaração de amor. Quero poder te abraçar forte, sentindo que primaveras existem, e casais felizes também, assim como o meu coração. Quero ver o sol nascer do teu lado, encostado em um carro e sentindo o sabor da promessa de um futuro surreal. Quero não precisar escrever, pela segurança de saber que tudo está cheio de amor. Quero me perder no descompromisso apaixonado de cada riso, mergulhar no suspiro de um abraço, ou mesmo de um olhar do meu amor, que é meu amor, não outra coisa. Quero poder sentir o prazer de fechar os olhos, e sentir que lágrimas de felicidade também existem, e curtir o quão inacreditável é o fato de que eu sou protagonista de algo que de fato é, e que de fato é inacreditavelmente maravilhoso. Quero ser raio de sol, grão de areia perdido, voar pra bem longe. Quero ser vento, fazer esvoaçar os cabelos de quem procura emoção, refrescar o suor de quem pratica o amor, passar pelas pessoas e fazer se perder um guarda-sol.

Sou vidro limpo, verbo sincero, desbocado, incisivo e denunciador. Denunciador do mundo que nos cerca, e dos vultos que me rodeiam, e, principalmente, do amor. E é esse amor que denuncio. Um amor injusto, de um coração que se sentia justiçado pela primeira vez. Estou cheio de amor. Cheio de vida. Cheio de ti.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Ledo Sentir

Sentir.
Gostaria tanto de mentir para você, assim, sem querer. Mas sinto, não minto.
A sutileza não me acompanha, nunca me acariciou. Ela só me fez sentir.
Sinto tanto, mas tanto. É intenso sentir, é gostoso, faz bem e é legal.
Só gostaria de, neste instante, amar o sentir como eu te amo. Sinto que não.
Sinto o gosto, sinto o tempo, sinto a carne, sinto o amor. Sinto muito.
Sinto que tudo dá voltas, e eu estou zonzo e febril.
E só sei sentir.
Sentir é natural.
Sabe aquele sentir rasgado, intenso, enlouquecedor? É isto.
Vale a pena sentir, aquilo que for, que será, que tenha sido.
Preciso sentir que estou vivo, sentir que você ao meu lado está vivo, sentir que proporciono felicidade.
Sinto que sou sincero demais.
Coisas de sensitivos idiotas.
...

Sinto que te amo e ponto final

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Gotas

É um carro a vagar por uma estrada deserta... um carro colorido e chaio de malas. Uma viagem de férias, e a maresia é de alegria. No banco de trás, um menino tímido se amedronta com a possibilidade de tudo aquilo terminar em um trauma de infância.

É uma praia bela. Um vento de muito longe sopra nos olhos de cada um ali. E o menino vê que tudo é tão cruel, ao se dar conta de que não é um deles.

São lábios úmidos. Macios e úmidos. O garoto aprende a se distanciar. Começa a criar estórias que não a sua, porque suas feridas ainda são abertas e amargas.

É um monitor LCD. É um quarto onde as paredes guardam as intimidades e as lágrimas de quem aprende a viver.

Poema de alguém que morreu para alguém que nunca existiu e está completando 20 anos

“(Paradoxo)...!Versos assombrados”

Meu último poema eu dedico a ti,
Meu primeiro, eterno e maldito amor...
...A ti...
...Demônio que o Paraíso habita...
...A ti...
...Fantasma que em minhas Visões ressuscita...
...A ti...
...Divina Sedução maldita...
...A ti...
...Fogo que arde em cada Ferida...

...A ti...
...Só queria dizer...

Fora daqui!
Fuja de vez de minha vida!
Em minha razão não há mais espaço pra ti!
(Mas metade de meu coração é só teu, querida...)

Deixe-me em paz!
Pois não agüento mais
Suas Lágrimas em meus ombros...
(Eu te liberto da Gaiola dos meus Sonhos!)

Já não suporto!
No Mar de tua boca me afogo,
Náufrago de teu corpo, perdido sem pudor !
(E quero me perder para sempre, meu amor...)

Chega!
Chega de tentar ressuscitar as Ruínas de mim!
Mesmo sabendo que nossas Fortalezas não têm fim...
(E que eu desmorono totalmente quando me beijas!)

Como é difícil ter que odiar tanto te amar!
(Você pode até imaginar...)

E por mais terrível que seja admitir
Por mais inevitável que seja chorar
Eu preciso confessar...

...A ti...

...Que sou escravo do teu olhar!
...Que tua alma os meus Sonhos invadiu
(E com mil demônios, esse desejo me possuiu!)
...Que meu relógio parado não merece atrasar de Luto...
Pois só a tua falta converte um segundo em 60 minutos...
(Mas basta a tua presença para descartar a Eternidade!)
...E que parece um Milagre
Quando tua Imagem me cura
Depois de tanta Tortura
E que por mais que eu procure

Nem no céu hei de encontrar Brilho maior
Que o de tua Estrela, que agora brilha tão só
(de)Cadente
No Céu escuro
De meus Olhos doentes
E
                  Chove...
                                  Chove...
Mas por mais que eu chore,
Sempre trago em cada Trovão
A Tempestade de nossa Paixão
E mesmo agonizando no meio da Lama
Encontro o Arco-Íris entre os lençóis de tua cama
E é sempre o teu nome que eu chamo
Quando arde o Brilho de nossa Chama...

Porque eu te amo!

(Não! O que estou dizendo?)
Condeno à Morte esses sentimentos!

Nossa Chama se apagou
Na Vela que se afogou
Com o barco de nosso Cruzeiro Infinito,
Antes de conhecer o Inferno paradisíaco

Morreram nossos Corações
E Afundaram nossos Caixões
Perdidos para sempre num Oceano vazio
Cadáveres inertes se Amando no Frio

Sou Ruínas de pedra
Um morto-vivo
Que vive em Trevas
E morre contigo

Pois nem se o céu se abrisse
Se nos encontrássemos no Apocalipse
Na Terra, surgiria uma fenda
Pois agora, nosso Arco-Íris é lenda!

(Melhor dar “à Deus” à nossos momentos...)
Teu choro é Fonte do meu desalento!

Pois sei que agora estás distante
Em busca de seus sonhos
Abriste mão de nossos planos
E te perdi num instante!

Mas levaste consigo metade de mim!
E quando eu pensar que não vou resistir
Os olhos fecho
E por inteira te vejo
Ainda posso te sentir
Sim...

O calor de teu corpo a me apertar...
“Promete nunca mais me largar?”
Os rodopios tontos de nossos abraços,
A embriaguez natural de nossos amassos,
O nado sincronizado de nossas línguas...
O brilho envolvente de seus dentes famintos,
A sensação arrepiante de tuas mordidas,
E sua Luz me levando ao Infinito...

...O Infinito...

...Lá...
...Onde nossos lábios se encontravam...
...Lá...
...Onde nossos beijos se encantavam...
...Lá...
...Onde nossos olhos se perdiam...
...Lá...
...Onde nossas pernas se confundiam...
...Lá...
...Onde deixei minha Ilusão...
...Lá...
...Onde não existe razão...
...Lá...
...Onde saciava os meus anseios...
...Lá...
...Nos teus seios.

O Infinito...
...Perdido...
...Dentro de Mim...
...Lá!

E aqui, só me resta a infinita Dor
Entregar-me de vez ao pranto sem Sabor

Náufrago desse Cruzeiro maldito,
Perdido na Tempestade de meus Olhos nublados,
Sob as Ruínas de nossas Fortalezas assombradas...

Inerte... vítima de Sonhos invadidos...
Possuído... escravo de um Olhar congelado...

E estarei eternamente voltado para as estrelas
Esperando por ti...
E assim como a 606 anos,
Esperando por ti...
Aprisionado na Gaiola dos teus Sonhos,
Esperando por ti...
Apodrecendo entre as ferrugens do teu Olhar...
Esperando por ti...
Em nome desse divino Desejo maldito,
Pois sei que também estarás em algum lugar, a me esperar...
...Lá...
...No Infinito.

domingo, 12 de outubro de 2008

Terceira Pessoa

Tudo o que ele quer é desabafar. Esta noite ele dançou. Dançou como se ninguém o pudesse ver. E ninguém, de fato, o viu, apesar de estar rodeado das pessoas mais estranhas das redondezas. No alto, havia uma luz demoníaca e ameaçadora. Seu corpo estava esgotado, mas era tudo muito eletrizante, seus poros clamavam por cada vez mais ação. Os vultos giraram, as paredes tremeram, o chão se perdeu dos pés, e ele sorriu.

Saiu daquele inferno, e pôs a cara na rua. Sentiu que ainda estava flutuando entre os mortais. Aos poucos decolou, até dar com o nariz na piscina. Sentiu algo simples, uma constatação, uma ameaça, um sussurro destruidor ao ouvido...

-Cuidado. Muito cuidado com o que vocês falam! Olhem só para ele! Cada pequena palavra mal escolhida pode rasgar seu estômago de cima a baixo. Ele pensa que não é assim, ele não percebe, mas é assim, sim! Ele pensa que é mais forte que isso, mas uma simples palavra, por menor que seja, pode fazer com que sua dança aumente o ritmo, pode fazer com que ele esboce um sorriso, pode fazer com que ele rodopie, pule, ou dê com a cabeça na parede, ou tropece sobre si mesmo, torcendo o pé e caindo com a língua entre os dentes. Ele jura que não, que é resistente a isso, até perceber que seu nariz está sangrando, e que é preciso correr ao banheiro para que ninguém veja.

É que hoje é aniversário dela. Vinte anos. Não que ela ainda mexa com ele, mas, de certa forma, parece que sua voz estava ressoando pelas milésimas paredes dessa noite.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Esquixxxofrenia

Júlia? Júlia, onde está você? Venha já aqui, Júlia! Ah, aí estás, transgênica!

Escute aqui, sua mequetrefe! Te arrependerás amargamente do dia em que resolveste ficar prenha! Me diga, Júlia... nunca ensinaste bons modos à tua filha? Um dia, sua uva, eu juro que jogo essa moleca para a alcatéia dos quintais, junto com todos os restos alimenícios mortais do dia! Veja como ela se porta à mesa! Veja só, que vergonha! Sinto uma tortura, uma agonia subir pela espinha só de lembrar! Júlia, ela insiste em me olhar no fundo dos olhos, com os cotovelos na mesa, e mastigar de boca aberta... a tua filha, Júlia! E faz aquele barulhinho incoveniente e torturador... Gronch, gronch, gronch! (rosna) Eu não tenho palavras para descrever o quanto eu odeio o gronchs gronchs! Oh, como isso me enlouquece... Pára um pouco comigo, Júlia, e imagina: A mesa posta. Um silêncio fúnebre, ensurdecedor... Um cadáver na bandeja. O bater amargo das louças, umas com as outras, o vidro na porcelana, o alumínio no nervo que sai dos dentes... e o mastigar de um animal à mesa, de boca aberta, suja, saliva, atroz, arroz, molho inglês, vinho, galinha, gororoba! Aaaah! Como eu detesto o Gronch, gronch! Como eu o odeio!
Mas ela não para por aí, Júlia. Isso é só o começo. Essa mocinha não tem limites! Eu vou te contar uma coisa, sua songa monga, e você trate de engolir tudo que eu disser, e sem mastigar, estômago abaixo!

Ela faz questão de sentar do meu lado, não apenas na hora do jantar, mas enquanto eu escovo os dentes, enquanto estou tricotando, enquanto estou brincando, rindo, chorando, enfim, a todo momento! Até mesmo enquanto pratico minhas necessidades fisiológicas. Se põe ao meu lado, com um olhar desafiador e perverso, e começa a mastigar chicetes! Ela abre bem a boca, para que eu veja o brilho do catarro em cada dente, e depois fecha! Aí começa a repetir, até que se esgote todo o açúcar! Sua crueldade não tem limites... Ela enfia o dedo mindinho no ouvido, e se põe a cheirar! E depois, enfia o dedo na boca, com os chicletes, salivas, arrozes, galinhas e feijões! Olhe para mim, Júlia, olhe para mim! Veja o que estou me tornando! Tudo por causa dela, dessa maldita criança!

Não! Não... olha ela ali! Ali, Júlia! Tira esse demônio da minha frente! Tira! Júlia, isso é uma ordem! Me obedeça! Manda ela parar, Júlia! Não! Ah... Gronch, gronch! Ela está cantando! Cantando e dançando, o maldito ritual do gronch gronch! Ah! Eu não aguento mais!

-Mastiga pra mim?

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Que rufem os tambores!

Um, dois, três! Um, dois, três! Se inicia agora a grande marcha celestial fúnebre em nome do desabafo! Saia já da minha frente, velhaco, antes que meus corvos arranquem seus olhos, e os lobos do norte venham mastigar a carne apodrecida dos teus joelhos! E cale já essa boca! Não ouse dizer nem mais uma palavra. Não preciso te consultar, não preciso concordar com absolutamente nada, nada que dizes. Guarde suas opiniões para si, somente para si, e as engula a seco, pela boca de teu rabo!

Espere! Espere só um segundo. Não vá embora, ainda. Não caçoei o suficiente de ti. Ainda preciso te ridicularizar muito, muito mais. Vejam! Vejam todos! Vejam só o que tem nos ombros desse homem! Hahaha, não é engraçado? Magnífico! Esse homem carrega nos ombros todas as dores que pode carregar um ser humano! Todo o peso desse espírito corroído deve evacuar pelas valas cândidas desta rua! Vamos, todos, vamos caçoar desse imundo, dessa corja individual, deste pedaço da nada! Sinta o peso desse corpo entortecido, entorpecido, e caia de uma vez, esfregando essa língua suja nas pedrinhas e minhocas dessa rua!

Não, não vá embora! Ainda não terminei! Estamos só começando! Agora é hora de partir para a agressão física! Venham todos! Vamos sentir, que delícia, o prazer da covardia vingativa! Que maravilha! Puxem todos suas armas: facas, pedras, espingardas, qualquer coisa serve! Mas antes de tudo, eu começarei com o primeiro golpe. Aquele, o mais potente, surdo e devastador de todos. A palavra.

-Viadinho

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Coisas

São coisas, são coisas. Coisas assim, tão pequenas, com um poder tão delicado de destruição. Coisas que de repente fazem soprar os ventos mais perturbadores. Coisinhas. Nunca deixarei de amálas, as coisinhas. É tudo tão assim, meio assim, meio engraçado. Quando páro pra lembrar, eu coiso. É aí que a coisa vira verbo: tudo muda, tudo se torna drama, ação, conflito. Eu coiso, tu coisas, ele coisa. Uma ação que varia de pessoa pra pessoa. Uma ação coisada.

E é ao pensar em certas coisas que eu vejo o quanto eu estive assim, todo esse tempo. Tão assim. Vi que talvez não fosse necessário. Vi que pode ser tudo um pequeno exagero da minha parte. Um pouco de excesso de sentimentalismo, talvez. Um pouco de números.

Só mais uma coisa. Não esqueça o quanto eu te amo. Não esqueça que se um dia, tudo isso acabar, só restaremos eu, você, e aquela tal coisa. Né, cara?

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

T.E.M.P.O.

Tempo, tempo, tempo, tempo.
A vida tá passando, o tempo tá escorrendo.blogspot.com

Preciso de tempo, de um celular, de uma cama, um escuro e talvez uma música.
A sobra de saudade é o que mata.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Importante

E talvez realmente importe.

- Estou chorando. Custa me dizer que isso não é verdade.

- Se preferires assim.

- Mas não vais fazer?

- Talvez.

- Como tens coragem de fazer isso comigo, porra! Lutei tanto por ti.

- Se fizer isso por ti, abdicarei de mim!

- E o que é mais importante?

- Já nem sei mais.

Não é realmente importante

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Linda de morrer de AIDS

Tem um cerotinho bem aqui, na parte da frente do meu cotovelo. Não, aí não, aí faz cócegas! Um pouco mais para cima, isso, não, mais pra direita, agora, isso, continua, continua... Sabe, eu tava pensando, ontem a noite, enquanto tirava minhas cutículas, que eu nunca fui tão, tão... como dizer? Ai, mais forte, desse jeito nem vai adiantar! Escuta aqui, vou dizer uma coisa, eu não tomo banho a dois dias e meio, então é bom você tratar de buscar aquele sabão de coco na cozinha, porque senão eu vou te dar uma escovada na cara, tratante, farsante, melindrante, desodorante. E não vou parar por aí não! Minha fama vai alcançar as águias do céu, e os animais que se arrastam pelo chão, e os peixinhos do mar, e todas essas cobras que habitam a vizinhança! E também espalharei de ti, espalharei de teus amores, teus fervores, tuas dores, e também vou contar pra todo mundo que a 3 anos, 4 meses e 5 semanas atrás deixastes a água fervendo até a panela secar! Crápula! Eu sempre te amei, e sempre te amarei, vem aqui coçar o meu sovaco

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Tetris, perseverança

É tarde demais. Eu estava no palco, dançando com o pedestal enquanto os backvocals cantavam uuuuu, mas um balde de tinta amarela desceu sobre mim. O balde estava lacrado. Mas era pesado, e veio com toda a força na minha cabeça.

-Sabe, eu estava pensando.

-O quê?

-Às vezes o destino parece implacável, né?

-Como assim.

-As vezes parece que é cruel, injusto... as vezes, parece que tudo é manipulado por um grande palhaço malvado, que faz tudo somente pra brincar com a gente, com os nossos sentimentos... e rir da nossa cara depois.

-Um dia, eu vou saltar de dentro de um sete de copas, e vou furar o olho desse maldito CORINGA!

-Calma, calma. Muitas vezes, esse coringa também é manipulado pelo destino, que é um coringa maior e mais complexo. Veja bem. Quando passamos por momentos muito difíceis, nossas vidas têm a oportunidade de crescer em sabedoria.

-Eu ainda prefiro cortar as mãos desse idiota.

-Existem certas ocasiões que provocam desilusões violentas e cardíacas. Mas, quando se apaga a luz, o escuro pode ser a oportunidade de sentir o lugar onde você está de outra forma.

De certo modo, a esperança é um alimento que merece estar na dispensa. Mas não no meu prato de comida brasileiro.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

bissexualidade

-É que eu queria perder a virgindade com você.

-Calma, cara, eu nunca nem vi o teu pinto.

-E qual o problema disso?

-Sei lá... vai que na hora de me abrir, tu tem um pinto pequeno.

-Algum problema com pintos pequenos?

-Meu filho, pro estado que eu estou hoje, não é qualquer coisa que preenche...

-Quer ver agora? Posso ligar a web cam.

-Não, acho melhor não... Sabe o que é, uma amiga minha teve uma experiência de pinto virtual, e não foi nem um pouco agradável.

-Como assim?

-Era um antigo professor de história dela. Ele tava dando em cima dela, aí eles começaram uma conversa de vídeo e tal, mas quando apareceu a imagem dele, ele tava com o pau na mão, batendo pra ela, e era um pau tão miudinho... deve ter sido traumatizante pra coitada.

-Como é que você sabe?

-Ela me mandou um print screen... Depois disso, transamos a noite toda.

-Como assim? Não sabia que você gostava disso.

-Adoro!

-Vamos transar?

-Não.

-Por quê?

-Porque você está se masturbando agora.

-Como você sabe?

-Eu conheço garotos do teu tipo, cara. Cuidado pra não melar o teclado, rs.

-Algum problema com masturbação?

-Não... na verdade, sim, quer dizer, depende.

-Como assim "depende"?

-É que eu estou me masturbando agora também.

-Nossa! Mas eu não estou me masturbando.

-Não?

-Não.

-Azar o seu. Porque eu não estava pensando em você, mas sim numa revista.

-Qual revista?

-A IstoÉ dessa semana. Tem uma matéria falando da Dercy e tal.

-Dizem que ela foi mumificada...

-Mas isso eu já sei que ela é!

-Ah, francamente, você não está se masturbando. É brincadeira, né?

-Porque eu estaria brincando?

-Pra me deixar excitado... agora já comecei a me masturbar e já gozei duas vezes.

-Hum, você é rápido!

-Modéstia à parte... mas nunca fui muito fã desse negócio de ejaculação precoce.

-Vou te contar uma história. Posso?

-Só se for excitante.

-Vamos lá. Semana passada, eu estava na casa da minha tia. Minha tia é uma velha muito astuta, sabe? Quando ela me viu, da varanda, tratou de pegar sua bengala e correr ao meu encontro. Ela tentou fazer uma manobra, para descer as escadas escorregando pelo corrimão, mas acabou morrendo

diálogo entre periquitas

-Sabe o que é? Eu vou abrir o meu coração. Vou me despir para você.
É que na minha casa, tem umas pedrinhas, sabe? Umas pedrinhas, guardadas bem escondidinhas, em cima da sola do meu sapato. Embaixo da língua. Sabe o que é? Essas pedrinhas as vezes incomodam. Aí eu deito na minha cama, e vejo moscas. São mosquinhas, voando. Me alimento delas. Ligo o meu radinho de pilha, e me ponho a dançar e zunzunzar com elas. É um ritual cabalístico. Elas pousam na minha pele, e então fazem cocô. É aí que elas puxam com todo o cuidado, cada fio de cabelo. Elas os esticam, até me envonver num casulo. E é aí que começa toda essa história! Você pode compreender agora?

-Eu te amo.

-Como ia dizendo. Tudo começa com o casulo. E aí, adivinha o que acontece? Eu começo a sonhar... e em cada sonho mais louco, eu percebo o quanto uma pequena faísca entre pedrinhas pode mudar uma história de vida. As pedrinhas se encontram, e pum! Não é lindo? Pedrinhas no sapato podem ser tudo o que falta nessa vida. Por isso encho cada sapato de pedrinhas, assim meu andar será como os das faíscas, pelo encontro das pedras. É como dizem sobre os beijos entre gays e lésbicas... uma espécie de choque. Nunca mais encontrarei pedras no meu caminho, pois elas já estão dentro de cada tênis! Falando nisso, eu já te disse que te amo hoje?

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Galatéia Spears

Antes de Galatéia Spears, havia somente Deus. E Cindy Lauper.

Galatéia Spears apresenta o Disney Club. Galatéia lança um CD. Galatéia fica em primeiro lugar no Disk MTV. Galatéia canta pra mais de 800 mil pessoas no Mangueirão lotado. Galatéia cheira coca. Galatéia faz xixi. Come um Big Mc. E volta ao banheiro pra fazer cocô.
Galatéia faz show com Madonna e Cristina. Galatéia paga peitinho em Manhattan. Galatéia termina com Justin. Galatéia beija Cristina. E a Madonna também. Ela sai na capa da Vogue. Cheira mais uma carreira de coca. Grava mais um cd. Ri e vomita bêbada no sofá da Paris Hilton. Deixa o miojo secar e chega atrasada no Grammy.
Galatéia lança um cd novo. Faz pose para os Paparazzi. Foge dos Paparazzi. Cansa dos Paparazzi. Chora quando ninguém tá por perto. Mistura prozac com cerveja. E Fica em primeiro lugar na parada da Billbord. Às vezes, Galatéia leva o cachorro pra cagar. Sente falta da irmã e da mãe. Trepa com o dançarino novo. Dá uma entrevista no "Oprah Winfrey Show".
Galateia lambe a tampa do iogurte até não sobrar nada. Assiste o DVD da Alanis. É vaiada no Rock in Rio. Esquece a letra de "Ops, I did it again". Cheira outra carreira de coca. E esquece de ir no aniversário da Drew Barrymore. Se irrita com os tablóides. Chupa o dançarino novo. Toma banho no quintal de casa. E sai na capa do jornal. Galatéia desaparece das paradas de sucesso. Engorda. Raspa a cabeça. Raspa a periquita. E dá vexame na saída da festa.
Galatéia também briga com a mãe. E engravida do dançarino. Grava mais um videoclipe. Experimenta uma picada, porque pó já não dá mais a mesma liga. E fica triste porque não leva nada no Grammy. Ela é vista aos beijos com o ex da Julia Stiles. Faz ultrasonografia. Sente ciúme do Justin com a Cameron, na capa da revista. Fica entre as mais mal vestidas. Bate o carro no poste da esquina. Grita pra todo mundo ouvir que a Cristina é uma vadia.
Galatéia suja o dedo no vidro da geléia. Galatéia espirra. Galatéia vai ao supermercado de chinelo. Galatéia faz parto normal. Galatéia se casa de roxo. Galatéia aparece de olho roxo. Galatéia se separa. Galatéia luta na justiça pela guarda dos filhos. Galatéia na reabilitação. Galatéia dirige sem carteira de habilitação. Galatéia ostenta sua autocomiseração. Galatéia no fundo do poço, coitada! Vai tentar se reerguer fazendo dueto com a Rihanna.
Ela cansa. Cansou de ser Spears. Ela queria apenas ser Galatéia. E vender outros milhões de discos mais. Em paz. Pobre Galatéia Spears. Deixa a coitadinha descansar em paz. No coração dos esquizofrênicos aparatos midiáticos. Bem no CEDOC* da MTV.

*CEDOC é um Centro de Documentação, local onde as emissoras de televisão arquivam as suas imagens no decorrer dos anos.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Rehab para um Floco de Neve

Fina neve do sertão. Brilhante como naftalina. Branca feito o dente do preto da Guinéa. Saltintando impávida nas savanas bolivares. Tilintando sublime sobre os cedros imperiais austríacos. Segue firme pela estrada de Santos, oh, fina neve! Rebolando feito Rita Cradillac. Mais bonita que Claudia Cardinalle. Leve e sóbria como Amy Winehouse. Voando pulsante pelas colinas mais distantes, onde os Telettubies vem brincar. Vai fundo. Até o chão. A boquinha da garrafa é o limite. Nada é impossível para ti, pequeno e inútil floco de neve. Subindo aos céus. Imortal como Dercy Gonçalves. Forte, sexy e ardente. Derrete vagarosamente. Puro deleite. Gozando na Patagônia. Esfuziante. Dançando Conga. Pro nosso corpo ficar Odara. Feito uma otária. Oh, fina e inútil neve do sertão.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Madeline

- Oh, estava te esperando! Como foi lá?
- As passagens estão compradas.
- Que ótimo! Seu perfume está em cima da mesa. Josefina embrulhou para presente.
- Não precisava!
- Você acha que vai demorar?
- Um pouco. Pedi sem molho inglês.
- Então vai dar tudo certo, fique despreocupada.
- O Sr. X deve ligar às 20h. Por favor, me ajude a desabotoar isso.
- Oh, claro. Um minuto.
- Há muitas garotas lá.
- Estive pensando, quantos anos fazem desde que ele foi embora?
- Não lembro. Obrigado!
- Às vezes, ela me dá medo.
- Oh, querido, você é maravilhoso!
- Que isso. Você é que sensacional.
- Posso mata-lo?
- Claro.

[UMA PAUSA]

- Você mentiu para mim.
- Por favor, acredite, eu jamais mentiria para você
- Ele sempre esteve aqui, era tudo uma farsa.
- Está na hora, vista-se.
- Madeline está viva

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Deu pra ouvir a sua punheta no quarto

Acordei assustado com aquele barulho insistente. Shhhiiiii. Tisc. Tisc. Tisc. Levantei, abri a porta, atordoado. Olhei hesitante para o corredor escuro. Percebi que aquele som inconveniente vinha do banheiro. Apertei o passo. Abri a porta abruptamente. E então vi você se masturbando ferozmente, apoiado sobre a pia. De frente para o espelho. Suado sob a luz esfuziante da penumbra.

Ora, essa, eu já devia ter imaginado. Era tudo uma punheta sua. Seu punheteiro filho da puta! Você não faz nada além de se masturbar. Fala de mim, mas no fundo, não passa de um punheteiro. Tudo o que você faz, tudo o que você diz, tudo é a mais pura masturbação. És incansável. Tão empenhado em fazer com que todos reparem no seu instrumento que chega a fazer barulho.

Ora, veja só, eu até acordei! Ahauhau! Agora que eu me dei conta de que você me acordou com essa sacanagem toda, tô achando tudo tão engraçado! Que susto! Ahuahau! O seu pinto já ta até ficando mole! Ahhaua! Quanta petulância da sua parte atrapalhar o meu sono com a sua masturbação, hein? Já não basta tudo o que você faz? Eu hein! Pode continuar aí, não tem problema. Eu não fui nada além de uma bronha na sua vida., mesmo! Pode continuar. Eu vou voltar pra cama. Mas não faz mais barulho, ok? Beijos, limpa tudo depois!

(Fechei a porra da porta)

Pensei, depois disso, que tem muita gente que vai ficar na punheta pra sempre porque jamais vai aceitar outro alguém pra dar uma mãozinha no seu show.

Quanta vaidade.

Dormi.

Notas sobre uma reticência

Hoje caminhei entre as folhas de papel em branco do meu pensamento. Caminhei por horas, refleti bastante sobre as cores e os pincéis mais adequados. De repente, como de costume, as minhas folhas em branco se misturaram com as tuas, já rabiscadas. Por vezes tento evitar que isso aconteça, mas essa força estranha que nos aproxima não permite.
E então, mais uma vez, me vi a ler teus pensamentos, teus versos confusos e mal arrumados. Não sei se sou deveras pertubado, ou se és tu quem domina muito mal essa arte das letras, mas fiquei um tanto quanto decepcionado com o que li. Não havia nenhuma novidade em teus escritos. Muito pelo contrário. A tua poesia continua morna. Quase sem forma. As cores da tua pena também continuam as mesmas. Só escreves sobre as estrelas que giram na órbita do teu umbigo. É tão cansativo e entediante. Não há nada mais poético pra você. Não há nada mais sem graça pra mim.
A primeira vez que eu olhei nos teus olhinhos cor de fanta e cereja, eu vi o mundo inteiro refletido. Era tudo muito atraente. Agora, que viajei fundo nesse emaranhado emoções disformes e perigosamente suicidas, percebi o meu engano. O que eu queria era oxigênio, aventura, psicodelia. Mas o mundo que eu encontrei termina um palmo depois do seu nariz.
Agora sim, depois de uma longa caminhada, eu preenchi as páginas que estevam em branco. E ainda há muita tinta por aqui. Ainda bem.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Bolinhas de Sabão

Veja bem: eu não sou obirgado
você não é obrigado

Todo mundo já tá dançando
No ritmo do verão
A porta tá entreaberta
A escolha é minha
A escolha é sua

Enquanto isso
A vida tá escorrendo
O tempo tá escorrendo
A paciência tá escorrendo
E a música não vai tocar pra sempre
No mesmo tom

Ora, veja só!
Hoje eu acordei
Com bolinhas de sabão azul piscina
Invadindo o quarto escuro
E por um instante inexplicavelmente brilhante
Eu vivi

Por que será?

sábado, 12 de julho de 2008

Eu te amo

Não tenho mais medo. Um dia, a eras atrás, já fui atingido por tuas ameaças. Agora, sou branco, limpo, uma cidade de tranqüilidade. Pode me ameaçar de morte. As suas balas não alcançam meu território. E nem ouse pisar aqui, porque aqui todos estão sedentos por te ver amarrado numa maca de hospital. Seu poder já era. Vais apodrecer caminhando em círculos, em volta de sua própria desrazão. Não vais conseguir nada. Suas palavras são como mosquitinhos simpáticos e inofensivos a fazer cócegas nos meus pêlos. Quando quiser, posso acionar um arsenal de repelentes.

Pode vir, meu caro. Pois vai ser com muito carinho que te apresentarei a abelha rainha.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Ofício 13/2008

Venho por meio deste declarar, a todos vós, que se perfumam com incenso de enxofre, a compartilhar minhas mais intensas visões. Vejam! Cabelo de Cachorro Mau está com as mãos no portão, cigarro na mão, marlboro na merdinha.

Quando eu cago, vejo boiando pedacinhos de você. São fragmentos que já passaram por mim, mas mesmo assim, se perdem na descarga. Porém, hoje, justamente hoje, a minha descarga entupiu. Entupiu de desaforos, desabafos, e toda a erva verde da terra.
Quando senti vibrar, não imaginei que virias com tanta força. Algo assim, marcante e inesquecível, retornava do meu estômago, se tornando uma dor insuportável de nó na garganta. Era o refluxo de tudo o que te fiz passar.
Vou passear na tua casa, brincar no teu sofá, roubar tua TV, teus DVDs, e gritar tudo o que vier à cabeça no teu videokê. Não és meu pai.  Por isso, me sinto no direito de tomar o que não mereces. Vou levar tuas TVs, eletrodomésticos, vou levar comigo a tua cadela. Mas antes disso, deixarei as garras dela marcadas nas paredes de toda a tua casa. E irei embora no teu carro. Quando saíres na rua gritando pérfido, maldito e infame, a única silhueta que verás será a de uma jovem mulata, a esbanjar brasil, chamada Chagas Franco. Então, teu telefone tocará, e te direi que nunca, nunca fostes criativo, muito menos revolucionário, e que já vi muitos como você em minhas peripécias nos anos 60. Lembro como se fosse hoje: um amontoado de adolescentes, em franca decadência, marcando suas costas com pó preto, num ritual satânico e entregando seus corpos às rosas de seus jardins. Era outono, e te vi, ou melhor, era o seu pai. Estava a agarrar outro homem. Bonito, não? Pois é. Assim te deixo hoje, afogado no passado, e embaixo de ruínas solidificadas de um castelo em reforma. Apodreça. E não deixarei que tua corrupção prevaleça. Te denunciarei para todos, e levarei a verdadeira mensagem do amor e da arte para cada flor envenenada do teu néctar.

Em suma,

Não passas de um arcanjo medicinal tombado como patrimônio histórico inadequadamente, e terás que deleitar-se sobre suas próprias bermudas, quando molhares teu colchão das impurezas que exalam dos poros da tua pele. E nem pense em saltar este muro, porque o que encontrarás depois dele é um imenso barranco cheio de pedaços de mim. São pedaços de vidro, pedaços de um espelho, e meus sete anos de azar vão atravessas tua pele, deixando mil feridinhas até que você perca a memória batendo a cabeça numa pedra, chamada RUBI SAUDADE
EU TE AMO, ASTROVALDO, ESTAVA SÓ BRINCANDO

Belém, 11 de julho de 2008.

(recebido)

Visualização mental

Coisas que vejo. Um risco arrepiante que sobe pela espinha percorrendo o caminho da loucura, na lataria de um belo carro cinza. Um desenho de Deus, uma mensagem de morte, o retrato mais puro e fiel da vingança. Mãos no portão, coração na mão. Lágrimas no colchão. Cabelo de boneca velha arrumado, com uma pistola na mão. Pum. O som do tiro rasga o silêncio da noite, causando um calafrio invasivo de alívio. Pega a tesoura. Corta até o último fio de sua barba nojenta. Cretino. Cospe os restos de pureza de tuas entranhas. Por dentro és cinza, escalafobético, ósseo, sem razões para amar. Sem razões para continuar vivo.

Vim aqui apenas deixar as coisas mais práticas. As pessoas te cultuam, mas te odeiam. És um estorvo na vida de todos. E não vou permitir que estrague a minha. Não mesmo. Eu sou o frio que te invade a espinha até rasgar tua garganta, sou o som estridente da garra de um leopardo riscando as tuas latas douradas.

Pega uma carona comigo. Vou te mostrar um universo cor-de-rosa, de fios de cabelo quimicamente tratados a invadir toda a tua cama. Cada fio desse cabelo canino vai te prender o coração, não deixando pulsar mais nenhuma vez; e vai dividir a tua pela, rasgando-a como um pedaço de papiro que se enrola. E todos os montes e ilhas foram tirados de seus lugares.

Pode vir. Pode cumprir a tua função. Vem me escancarar meu destino, o caminho dos espinhos das rosas verdes do meu jardim. Vem adiantar as coisas. Assim, tudo se torna mais prático. me ajuda. Preciso de ti. Eu me rendo. Vem cortar o meu cabelo. Já posso até enxergar, o ralo do esgoto ficando entupido, e os meus cabelos melancólicos invadindo toda a cidade. E tudo vai se inundar. E o teu veneno vai se voltar contra ti, barbeiro da morte, e vais se afogar no circo sangrento que tu mesmo armaste.

Enfim, em breve te reencontrarei, e cantarei pra ti minha mais nova melodia: a do ensurdecimento.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Suprimido

Resumido a quatro paredes.
Todas seguem o mesmo padrão:disformes,inigualáveis e translúcidas.
Uma viaja em milhares interpretações desvairadas, de sentidos absurdamente aguçados.
Outra é filtradora, as vezes controladora, muitas vezes inconsciente.Por sinal sua rede anda meio furada.
Uma é fazedora, cumpridora, perfeita por m², não aceita inconseqüência.
E a outra não sabe, tem preguiça demais pra arranjar definição.
As vezes se reduzem a um pequeno cubo, só enchergam faces.Pouco raciocínio, muita razão, e um convívio aceitável.
Outras vezes se dispersam formando uma imensidão emocionalmente imcompreensível, racionalmente desconhecida e agradavelmente confortavel.Definindo aquela fina linha no horizonte entre loucura e liberdade.
Gosto daqui de dentro, tem uma tv e um controle, a opção é minha.

sábado, 28 de junho de 2008

O Poder

Já se foi o tempo em que você entrava numa sala, sentava numa cadeira, e os soldados te amarravam e ameaçavam. Os tempos mudaram. Hoje, a gente obedece sorrindo. Quem detém o poder simbólico nos convence, sem que a gente nem perceba, que é natural estarmos na posição de dominados. Somos adestrados pra isso, e a cada vez que obedecemos, ganhamos um biscoitinho canino como recompensa. Nada contra biscoitinhos caninos... alguns até que são bem gostosos (com leite condensado, então, delícia, rapaz!). Não reparem nas minhas estratégias enunciativas capengas, é que o sono já está a me penetrar. O café tá borbulhando no meu cérebro, negro como a noite, escuro como as profundezas dos meus sonhos... quero mergulhar na primeira forma horizontal que se materializar na minha frente, e me tornar esse tijolo gelado de trevas. Placebo. Gosto de ouvir. Ainda mais nessas horas, que tudo o que a gente pensa acaba virando espuma, algodão, almofadas, penugens, roupas de cama, maciez, profundidade, espera, viagem, tortura. Deixa eu vazar, que ainda tem muito café pela frente.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Primeira Impressão

Eu te conheço.
Sou teu melhor amigo. Teu pior inimigo.Sem sinceridade exata.
Te preencho de vazio, crio o que não tem.
Então você sente, precisa, e faz.
Teu cérebro cego, surdo, e mudo,
Soluça até que eu te de o remédio.
Meu burrinho obediente.
Te encho de insultos sedutores,
Teus ouvidos não resistem.
Você se acha consumidor,
Mas eu te consumo, assumo, possuo, e não te deixo em paz.
O mais adoravel desconforto, o mais insensivel desejo,
A belaza mais rasa, a satisfação mais insulficiente.
O amor reciprocu, adequadamente impróprio.
Sou semi-deus, minha onipresença, potência, e ciência,
São regras falhas...
Todo dia mais um, pois a exceção é a minha sina,
Meu carma, te quero e não desistirei de ti.
Sou o único cumplice em comando,
A única cópia original,
O único capaz de fazer coexistir bem e mal.
Eu e você, juntos somos dois,
Inseparáveis,
Até que sua morte nos esqueça.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Uma estranha cadência

É alucinante. O bombardeio, o fluxo, as mensagens, são meteóricas. Passam por mim como vento, com aqueles grãozinhos de areia insistindo em perfurar a pele. Tentam me levar pra trás, mas eu resisto. Até que resolvo saltar, e viajar com eles. Uma luz perturbadora invade o meu estômago, de baixo pra cima, até fazer tudo virar de cabeça pra baixo, e girar, e girar. Sou um pedaço de luz, cadente, viajante, livre. Informação.
Sou levado pelo vento, uma viagem louca, translúcida, transversal e horizontaldina, com muito fervor de adrenalina. Até que consigo alcançar uma pequena foto três por quatro, e

-

tudo escuro, o tempo pára. Nesse momento, somos só eu e ela. Na foto, seus olhos me dizem uma única mensagem. Uma profundidade inalcansável de um olhar. Tudo gira, é apenas um globo da morte. Então mergulho na foto.

Eternidade.

É uma estranha tensão entre o ser atemporal e o estar instantâneo. Um leve arrepio que percorre desde a infância até a efemeridade de uma ruga. De repente, tudo parece tão obsoleto. Volto à cena de uma leve troca de carinho, um olhar, no canto de uma sorveteria. Sou fragmento de eternidade, digitalizado, impresso, reticulado, imortal. um pedaço de papel voando a percorrer o mundo inteiro junto com as folhas secas. Um amontoado de dados a se reconfigurar numa rede infinita de significados. Um breve sorriso, espontâneo, artificial, arrepiante. Um quase gemido de felicidade. E não vivi. Feliz. Para sempre.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Aquelas coisas de sonho sabadinal

Consigo pensar que a culpa sempre foi minha.
Seu sorriso sacana profissional até parece bonito daqui.
Trinta mil portas se fecharam pelas minhas costas, cada canto do meu quarto está imundo.
Mas desde que te conheci só quero arrumar meu paladar e inventar a desculpa de perguntar as horas pra manter contato.
Aceita passar a insônia na sorveteria? Serei o sorvete de manga e você o de menta.
Quero gargalhar vendo as palmilhas dos nossos tênis encharcadas pela chuva.
Agrada-me aquela atmosfera de pés na grama. Vivas ao anagrama de ROMA.
Verdadeiro ou falso? Na frente da sua cara ouço uma batida oitentista.
É verdadeiro, é veraneio. Chegou o tempo perfeito de pôr camisetas no varal e entender que a bondade cabe na xícara de chá das oito.
Aposto que o espelho da Branca, aquela de neve, está pronto pra contar o que a tempos eu enxergava.
Quando chegas falta em mim cartas na manga, manga da manga e não manga da blusa.
Todo o repertório musical das mentes próximas toca em minhas mãos, nervoso.
Prepare os óculos escuros, pegaremos a estrada, Bonnie e Clyde bonzinhos, vento nos cabelos e os clichês da vovó no porta-malas.
Todo tempo sempre tempo de piscinar em batatas fritas e todo creme será de maçã.
Ofereço-te a frase mais pós-moderna e romântica: Fica aí oras! Toma um suco comigo.

Jorge Amado me ensinou o dó-ré-mi.

É como se eu tivesse ficado sentada de pijama no quintal, esperando um pé de feijão brotar do algodão molhado. Já diz o poeta: “Acorda, acorda Joana! As palavras que dão tremilique nas pernas foram ditas”.
Vou sem muita vontade pra frente do espelho escovar os dentes, do molar ao molar, matutando sobre a refeição dominical e escolhendo a melhor alface para a salada. Podes então pôr sal no que eu esqueço.
Loça suja na pia, lavar não quero, conversar contigo?! Aceito de bom grado. Percatas no pé, prontos para sentir o calor resfriado do asfalto depois da chuva. Vamos a lavanderia do meio da rua? O espremer da nuvem mais próxima será nossa festa.
Esqueça as cabeças cortadas do caderno policial, veremos quinta-feira na hora caos da cidade uma pintura pós-moderna com cheiro de cheiro-verde. Quem me dera que todos os sorrisos fossem de cinema e que todas as brigas acabassem em uma doceria.
Então foi assim, ficou aprisionada na vitrola a mesma música, no fundo do copo de fanta-uva os acordes, o tempo continua. Antes de dormir quero ter um ataque de retorno. É quando a mente escolhe reviver um momento perfeito, daqueles que o coração fica arritimado e tudo em volta parece silenciar (enquanto o nervoso queima o gerador de energia do bairro).
Chegamos ao ponto indecente da questão, olha-se para o passado e não há mais trinta carros te perseguindo e nem aquela gente chata para vomitar em ti. O tempo da brilhantina virou texto de livro didático, as coisas enfeiaram, Drummond morreu. Se já não bastasse o enferrujar do baço, do figado e do pulmão, o hiperordinário cotidiano enferrujou nossa saliva, nosso sentimento e nossa alma. Vou fazer com que comas quinze torradas queimadas, assim saberás como é tentar falar sobre a beleza e a unidade contida no teu abraçar.
Sem sustentabilidade nos meus joelhos, ficar em pé é e deve ser questão de treino. As coisas tem melhorado, disseram na tv que as tomadas terão formato universal, isso que é romantismo.
Ouve! É a última música da noite, dá para ver esse momento pode ser insano e capturador. É perigoso te achar tão doce. Só quero ficar aqui e atrasar o sol, porqueesse pode ser o último refrão e é preciso te puxar para um abraço disfarçado de dança desajeitada. Só posso me arriscar a pretender falar contigo com a presença de uma aeromoça, preciso saber como usar a máscara de oxigênio em caso de turbulência e quanto as saídas de emergência, no linguajar das atendentes de marketing, te digo: ‘estaremos dispensando’.

Monique Malcher.